24.11.07

sobre as coisas que eu acredito

Eu realmente queria estar muito feliz nesse momento, sem tantas dúvidas existenciais e sem tantos porquês martelando na minha cabeça. Mas a verdade é que, se há uns cinco anos, antes de entrar na faculdade de Jornalismo, alguém me dissesse que eu sairia tão sem esperanças dela, talvez nunca tivesse ingressado. Talvez fosse fazer História ou Direito ou Arquitetura ou tantas das maluquices que um dia pensei em cursar.
Juro que não sei o que acontece comigo. Bem provável, eu tenha fantasiado a respeito de muitas coisas. Idealizado sobre outras tantas. E pensado que poderia ser uma profissão bonita, interessante, em que a chamada verdade teria grandes chances de se sobressair. Que seria um universo de belas viagens; não necessariamente ao outro lado do mundo.
Porém nesse instante eu penso que toda a poesia que eu vejo nela, toda a sensibilidade que me toca quando lembro dos Clutter e do Truman Capote desaparece quando eu olho ao meu redor. Apenas o que consigo ver é um monte de gente apressada, engolindo a comida, correndo para pegar um ônibus, um trem ou um carro e se dirigir até a redação – pelo menos, os que conseguem estar em algo que se assemelhe a isso. Nesse local, se permanece por horas a fio olhando para a tela de um computador, digitando freneticamente, descobrindo o que o outro descobriu antes.
Eu tenho muito claro que toda a conversa de que “o jornalismo está mudando” e de que “as coisas não são mais como eram uma vez” é pura manipulação para todos aceitarem um erro que, não sei como, foi tomado como uma verdade. De que jornalismo hoje se pode fazer dentro de uma sala. Ou de que um simples telefonema basta. Ou de que existe algo que substitui o olhar.
Fico ainda mais deprimida quando vejo que as pessoas tentam desesperadamente se adequar a esse novo padrão. Um estilo novo de se fazer jornalismo que, para mim, se trata simplesmente de um assassinato de qualquer paixão. No fim, entendo que a vontade de se adequar mostra que lutar contra tudo isso pode se tornar tão doloroso e desgastante que o melhor é aceitar os fatos como são e procurar um cantinho de felicidade nesse vazio infindável.
Só que as situações se confundem tanto às vezes que, quando encontro gente feliz nessa circunstância, penso se elas não seriam mais jornalistas do que eu. Não sei, talvez elas sejam mais sábias e aceitem que o jornalismo mudou mesmo. Que as minhas exigências e rigores quanto ao que eu acredito ser certo fazem parte do passado. De um passado que eu não vivi, mas do qual sinto absurdamente a falta.
Às vezes, sou muito massacrada pela idéia de que eu não sou uma jornalista de verdade. Que eu não sirvo para essa profissão. E ser confrontada por esses pensamentos às vésperas de se formar não é a coisa mais fácil de suportar. Tenho um amigo que sempre falava das fraudes jornalísticas. Penso se eu não seria um belo exemplar de uma dessas. Em um mundo em que se acredita que tudo esteja errado, é muito difícil pensar que se está certa.
Por isso, jamais me peçam para aceitar que o jornalismo mudou. Jamais tentem me moldar às suas enganações. Me deixem esbravejar e defender que o jornalismo não mudou, mas, ele sim foi fraudado. Não digam também, pelo menos perto de mim, que esse universo medíocre de “copia e cola” é a nova forma de reportagem do milênio. Nunca eu vou aceitar isso. Pode ser que, por uma razão ou outra, eu tenha de me submeter. Mas bravamente a minha certeza e o meu espírito vão agüentar tudo e não se renderão à hipocrisia.
Por isso, não me peçam também os planos para depois de formada. Não me exijam convicções demais além das que já guardo. Só sei que, onde quer que eu vá ou seja lá o que eu faça, eu vou tentar ser fiel ao que eu acredito. Posso fazer inúmeras coisas. Mas nunca quero aceitar uma mentira.
Pós-Fabico, talvez eu persiga os meus sonhos e vá em busca daquilo que eu creio ser o verdadeiro jornalismo. Vá em busca do que eu penso deveria ser a reportagem. Por relatos, eu escuto falar de que isso resiste em algum lugar por aí. Talvez eu vá descobrir isso.
Ou pode ser que eu desista de tudo e encontre em outra área aquilo que o dito jornalismo hoje me nega. De repente nos trabalhos de campo das ciências sociais, atualmente, se consiga ser mais repórter do que dentro de um ambiente claustrofóbico. Bem provável a pesquisa te proporcione mais surpresas do que uma pilha de informações bobas, ocas e editadas mecanicamente. Talvez eu me esconda nesse mundo.
Então, pode ser que eu descubra o quanto de jornalista restou ou mesmo o quanto disso existe, de fato, dentro de mim.

2 comentários:

Anônimo disse...

Gosto dessa tua sinceridade nas coisas. Lembro-me de já ter discutido algumas dessas palavras do texto contigo num banco da Fabico. Eu, sinceramente, não sei o que faço em jornalismo. Mas talvez ainda faça descobertas...

Beijo, Pati!

Anônimo disse...

Se tu desistir do Jornalismo, é porque não há mais esperança mesmo. Acho que tu vai acabar percebendo que essa tua indignação é justamente do que o jornalismo precisa para ser salvo das redações de jornal e do ctrl+c e ctrl+v - e que, se pessoas como tu desistirem, não vai sobrar quem possa manter isso vivo. Da minha parte, vou ser um jornalista-gauche na vida ;)

Beijos, Pati =***