Já comentei, em vários posts, sobre minha mais recente mania, a culinária. Tudo começou com uma salada mexicana no ano passado e, desde então, só aumenta meu repertório de receitas. Já fiz até escondidinho de carne seca, brownie e kafta, coisas que eu considero de ~nível superior~ na arte da cozinha. Não ficaram perfeitos, mas com a prática tenho certeza de que posso melhorar.
Coleciono uma longa lista de receitas em uma página do Evernote - as que faço marco com itálico. Daí que essa minha "saga" particular ao longo do ano me lembrou o filme Julie & Julia, que assisti há alguns anos. Não gostei tanto assim na época, talvez por não estar tão envolvida com o tema como agora. O filme teve como origem um livro, escrito pela Julie Powell, que lançou a si mesma o desafio de preparar as 524 receitas do livro da Julia Child, "Mastering the Art of French Cooking". Descobri o livro em um sebo pela internet e, no mesmo dia em que fui buscá-lo, comecei a ler.
É uma delícia de leitura. Primeiro porque a Julie Powell escreve muito bem. Em segundo porque, além de as histórias serem ótimas, a Julie - pelo menos nessa fase da sua vida - tem um cotidiano absolutamente normal. Com 29 anos, sente aquela pressão (pessoal e social) para ter um filho. Também trabalha em um emprego chato (como secretária em uma entidade governamental), enfrenta problemas diários (panes no metrô, supermercados fechados, falta de energia elétrica), , fala palavrões, tem dor nos pés e pouca grana para comprar os ingredientes mais phynnos das receitas... Difícil não se identificar - eu me vi dezenas de vezes, principalmente por seus comentários sarcásticos e irônicos (que lembram meus próprios pensamentos em situações semelhantes).
O livro é um ótimo entretenimento, mas consegue ter um efeito maior. É motivador. A "moral" da história toda é a ideia de recomeço. Julie Powell não acreditava em grandes coisas da vida quando decidiu preparar todas as receitas da Julia Child. E a Julia hild, em consequência, não faz o tipo figura caricata, daquelas que "nasceram" para o sucesso. Ela só foi descobrir seu talento aos 39 anos, quando decidiu fazer um curso de chef para preencher as horas vagas na França. Ambas aprenderam, cada uma a seu tempo e a seu jeito, que a vida poderia oferecer muito mais do que a rotina nos impõe. É só misturar os ingredientes certos e testar, testar incansavelmente, até a mágica acontecer - uma comida gostosa no prato e a sensação de que sempre podemos avançar e nos desvendar um pouquinho mais.