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21.2.12

lindos e leves balões


Há meses estava com "O Balão Vermelho" (de Albert Lamorisse, 1956), no meu computador, mas só hoje, final de Carnaval, resolvi assistir o média metragem.
Impressionante como os filmes que parecem de criança conseguem ser tão mais bonitos e universais. Mesmo eu, que não fui a criança mais feliz do mundo quando era minha vez, invejei por um momento não estar mais nessa fase de leveza do ser.

28.10.10

foucault mais vivo do que nunca

Vi ainda na semana passada Tropa de Elite 2, do José Padilha, em uma simpática promoção de um cinema na Avenida Paulista.

Queria fazer um texto legal sobre o filme, mas o cansaço e a falta de tempo têm atrapalhado. Mesmo assim, fico incomodada em não escrever nada a respeito de um assunto – violência e conflito social – que sempre esteve entre os mais interessantes pra mim.

Nunca concordei com a visão das pessoas, em geral, a respeito do primeiro Tropa. Mas deve ter muito a ver com o fato de eu ter lido, bem antes, “Elite da Tropa”, livro do Luiz Eduardo Soares e dos ex-soldados André Batista e Rodrigo Pimentel.

A primeira do livro, descritiva, relatava o mundo do Bope e o treinamento dos policiais. Cheio de cenas feias e grotescas, como parecem ser as “aulas” mesmo.

Já a segunda parte é uma ficção, e o texto é algo como um conto, que lembra deveras Agosto, do Rubem Fonseca (mas sem a mesma qualidade). O que aparece, então, é o lado burocrático do crime. Em vez da violência dos morros e das armas do Bope, a corrupção dos agentes nos gabinetes, dos políticos... Na trama, até mesmo o governador estaria envolvido.

Quando fui enfim assistir Tropa de Elite, achei estranhíssimo essa segunda parte ficar de fora. Aparecia a classe média, os conflitos psicológicos do personagem principal, mas por onde andaria a banda podre dos gabinetes¿

Tornou-se, justamente, o enredo do segundo, com base na atuação das milícias sobre as comunidades pobres do Rio.

Por isso eu tenho a audaciosa tese de que o Padilha não foi convencido porcaria nenhuma de que fazer um segundo. Eu apostaria que esse segundo nasceu, na cabeça dele, junto com o primeiro. A história é uma só.

E para quem reclamou do pouco caso de Padilha com Michel Foucault, Tropa de Elite 2 pode ser, de certa forma, redentor. Com a descoberta de como funciona o “sistema”, Capitão Nascimento consegue ver e mostrar que Foucault e seu “Vigiar e Punir” estão mais vivos do que nunca.

Saí do cinema com uma sensação de que estou do lado certo. De que as lutas valem muito a pena.

Um viva final para o Marcelo Freixo (o Fraga do filme na vida real), pela coragem, e para o José Padilha, que conseguiu levar todo mundo pro cinema com filmes inteligentes e politizados, sem apelar para a fórmula das horrendas comédias nacionais.

Junto com Ônibus 174 e o primeiro Tropa de Elite, o diretor conseguiu um panorama fantástico sobre o conflito social no Rio de Janeiro. Assuntos difíceis e complexos para um post só, mas os problemas que José Padilha desnuda estão longe de uma solução fácil. Pelo menos agora dá pra dizer: só não vê quem não quer.

12.10.10

descobertas

Acabei de ver "A Aviadora de Kazbek", uma produção holandesa/belga que encontrei em minhas fuças pela internet. Lindíssimo. Há muito tempo não via um filme que me impressionasse tanto.

13.6.10

welcome to cabaret

Depois de anos de protelação, assisti enfim a Cabaret, recomendado por um amigo que, geralmente, acerta nas indicações. E acertou agora também.

Imaginava um musical no estilo mais clássico, mas tem um lado tão underground que, pra mim, chega a ser meio cult. Digamos que é uma comédia-musical-cult passada na Alemanha nazista. É, parece meio esquizofrênico, mas a combinação é que torna o filme tão curioso.



Os diálogos são muito engraçados, as músicas são simpáticas e as atuações, históricas. Mais do que a Liza Minelli, que ganhou com sua Sally Bowler o Oscar de melhor atriz em 1972, o mais genial para mim é o Joel Grey, mestre de cerimônias.

Sem dúvida um dos musicais mais interessantes que já vi. Mas só vale a pena mesmo para quem gosta do gênero. Caso contrário, são grandes as chances de achar tudo uma grande bobagem...

24.5.10

velho e bom woody allen

E eis que descubro que o passar do tempo não torna todas as coisas piores. E nem melhores. Às vezes permanecem como são. Com o Woody Allen parece ser assim, pelo menos.

Havia me decepcionado com Vicky Cristina Barcelona e prometido não ver mais seus filmes tão cedo. Mas graças a uma promoção do shopping do tipo “compras acima de tantos reais valem um ingresso” (no caso um desconto, já que estamos na muquirana São Paulo), fui assistir hoje a Tudo pode dar certo, a última comédia do diretor.

É a historia de Boris Yellnikoff (Larry David), um velhinho rabugento, quase ganhador de um Nobel, especialista em mecânica quântica e professor de xadrez que se envolve com a interiorana Melodie St. Ann Celestine (Evan Rachel Wood), do tipo “loirinha e burrinha”, com com mente e hábitos totalmente opostos.


Já havia lido alguns elogios em sites e revistas, por isso gostar do filme não foi surpresa total. O que me espantou foi ter gostado muito. Lembrou trabalhos mais antigos como Poderosa Afrodite, Manhattan e mesmo Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, meu preferido. Ótimos diálogos, cenas engraçadas e personagens beirando o histérico e o esquizofrênico. Exatamente como gostam os fãs do diretor. Poderia considerar frustrante ir ao cinema ver um filme em um formato já conhecido, mas tenho tendência a admirar as pessoas que fazem bem o que sabem. E gosto do Woody Allen por isso.

Acredito que a melhor atração é mesmo Larry David, que se sai muito bem como o velhinho rabugento. Ver um filme de Woody Allen com um ator representando seus antigos papéis foi até um desafio pra mim, que sempre considerei aquela figura caricata e até óbvia a melhor coisa nos seus filmes. No fim das contas, gostei da construção do Larry David, que deixou o personagem, digamos, mais factível.

Tudo pode dar certo, sem dúvida, foi a melhor escolha a ser feita em uma noite de segunda. Dia, aliás, que nos proporciona prazeres como uma sala de cinema quase vazia, sensação quase comparável a de um museu vazio. Extravagâncias e manias que me fazem, com medo, perceber semelhanças entre minha pessoa e os neuróticos personagens do Woody Allen... Afinal eu também sou às vezes meio excêntrica, vivendo um tanto isolada em uma grande cidade, tão cheia de histórias e de pessoas...

2.3.10

no embalo dos clássicos

A coisa mais difícil é amar a vida. Amá-la mesmo quando estamos sofrendo porque a vida é tudo. A vida é Deus, e amar a vida é amar a Deus.

Essa é a frase com que termina Guerra e Paz (1956), dirigido pelo King Vidor, baseada no clássico do Leon Tolstoi. Antes de ver o filme, duvidava um dia conseguir ou mesmo ter ânimo para ler o livro. Pelo que parece, são umas 1200 páginas - só de épico são três horas e meia. Mas, depois de assistir a megaprodução no domingo, me deu uma imensa vontade de encarar todos os volumes de obra...


O fime em si é bom - Audrey Hepburn, Henry Fonda e Mel Ferrer e os figurinos bonitos como pede o gênero -, mas nada de surpreendente. Acho que o melhor mesmo são os diálogos, que fazem o tempo passar muito mais rápido e te faz nem perceber o tempo.

Enfim, hoje já andei pesquisando o preço do calhamaço. Como ultrapassei a cota de gastos para a atualidade, vou deixar a extravagância para mais tarde. Mas fica como determinação. Em algum momento em tenho que ler Guerra e Paz.

23.2.10

desbunde

É como dá para resumir Ladrão de Casaca (To Catch a Thief, 1955), o último filme a que assisti do mestre Hitchcock, agora que decidi fazer um tour pela sua filmografia.


Dos (poucos) filmes que já vi do diretor, nem de longe é o melhor. Tudo bem que os dois últimos foram Janela Indiscreta (talvez meu preferido) e Os Pássaros, o que significa uma concorrência desleal, mas Ladrão de Casaca sem dúvida excita mais pela paisagem e pelo elenco do que pela história mesmo.


John Robie (Cary Grant), o “Gato”, é um ex-ladrão de jóias que se torna o principal suspeito de uma série de roubos na charmosíssima Riviera Francesa. Mesmo tendo parado com os crimes há mais de 15 anos, Robie terá que provar sua inocência e, entre idas e vindas, vai contar com a ajuda da bela e rica Frances Stevens (Grace Kelly, com um figurino de matar de inveja) para desmascarar o verdadeiro ladrão.



De qualquer forma, vale muito a pena ver porque, além de ser Hitchcock (verdadeiramente o mestre, que inclusive aparece em uma cena), a combinação Cary Grant + Grace Kelly + Riviera Francesa faz muito bem aos olhos.

3.2.10

élégance, mon amour



Ótima sugestão, não só para quem gosta de moda mas aprecia uma bom filme biográfico (coisa que vem se tornando um tanto rara no cinema).

Tinha certa curiosidade pela figura de Coco Chanel, mas nunca foi grande ao ponto de procurar algo sobre ela. Bem, o filme ajudou a curar essa lacuna e conseguiu me mostrar uma das mulheres que, descontados possíveis exageros da adaptação, certamente fizeram diferença, e no melhor dos sentidos.



Coco não só ajudou a livrar as mulheres dos horrorosos espartilhos (que a indústria da moda tenta ressuscitar sem sucesso por meio dos horrorosos modeladores) como foi a primeira estilista a criar e desenhar calças femininas.

Além disso, construiu uma carreira com o próprio talento e decidiu que nunca se casaria. Antes de mostrar uma mulher fria, porém, Coco Antes de Chanel traz uma personagem decididamente humana, com defeitos e uma trajetória nada linear, como parece ter sido a própria Gabrielle Chanel.



Audrey Tatou está excelente no papel, a produção é bem-feita e contida, como uma boa película francesa. Figurinos ótimos e um final muito bonito. Com esse filme, não tem como sair da sala de projeção querendo passar em uma loja elegantérrima e comprar uma passagem para Paris.

9.12.09

madredeus

Não achei Céu de Lisboa um grande filme do Wim Wenders, mas valeu pela descoberta desse grupo português, Madredeus. Essa é a trilha do filme, e a música que achei mais bonitinha.

22.10.09

são paulo não pararia por este filme

A descoberta de que, nas terças-feiras, o cinema do shopping na Avenida Paulista, perto da Consolação, cobra apenas cinco reais para filmes nacionais, me fez, há duas semanas, dar um basta na preguiça e reinaugurar minha temporada de idas solitárias às salas de projeção.

Fui assistir a Salve Geral, do Sérgio Rezende, o tão aguardado filme sobre os Ataques do PCC em 2006. Ou os chamados "Crimes de Maio", como preferem as organizações de direitos humanos.

Como estudiosa que fui desses episódios por conta da minha monografia (já se vão dois anos de sua conclusão), presunçosamente resolvi que eu seria uma pessoa "importante" para analisar o filme - ainda que minha opinião não atinja muito além de mim mesma.

Salve Geral conta a história daqueles dias a partir do olhar de uma família de classe média decadente. Lúcia (Andréa Beltrão) é formada em Direito, mas nunca exerceu a profissão, trabalhando como professora de piano. Depois da morte do marido, junto com o filho Rafael (Lee Thalor) é obrigada a se mudar para uma área periférica de São Paulo, mais de acordo com seu novo padrão de vida.

O filho fica revoltado com a mudança, se torna rebelde, participa de um racha, se envolve em uma briga e, acidentalmente, atira contra uma moça, que morre. Ele é detido, condenado a oito anos de reclusão e vai para um presídio – bem um daqueles “simpáticos” e “convidativos” que aparecem na televisão.

Preso, Rafael descobre que uma facção (Comando da Capital - o filme não usa a sigla PCC nem o verdadeiro nome do grupo) domina o presídio e que, para os que tiverem dinheiro, a vida lá dentro não precisa ser tão difícil.

Pedindo uns trocados para a mãe, ele consegue uma cela melhor, onde pode até usar desodorante (o que soa como um luxo se compararmos com as condições das celas superlotadas).

Lúcia, com a prisão do filho, se desespera e resolve que precisa ajudá-lo. Fica amiga de Ruiva, advogada do PCC (Denise Weinberg, melhor atuação do filme), inicia um caso com um dos detentos e é justamente esse envolvimento de mãe e filho com a facção e com o crime que se desenrola o filme.


Enquanto produção, a película é apenas razoável, cenas bem feitinhas, nada mais. Em termos de narrativa, o que realmente chamou a atenção foi a forma como se aproveitou a figura de Marcos Herbas Camacho, o Marcola, sem personalizar. Em vez de usar apenas um ator representando o líder, optou-se por utilizar três personagens diferentes, cada qual pegando, para si, algumas características e frases atribuídas a Marcola.

No início, fiquei um pouco confusa, tentando descobrir quem seria o verdadeiro, mas só depois me dei conta do “truque”. Acredito que a opção foi boa e acertada, porque o personagem “pleno” seria mais interessante do que todo o resto, monopolizando a história. Disso não tenho dúvidas. Também é bom elogiar que os “bandidos” criados não me soaram estereotipados, um risco que sempre se corre e que periga deixar tudo com cara de novela/seriado mal-feito.

De forma geral e apesar dessas qualidades, eu esperava mais de Salve Geral, até por ter sido escolhido o representante brasileiro a uma das cinco vagas que concorrerão ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Aguardava que, pelo menos, pudesse provocar discussões e reações adversas como causou Tropa de Elite, do José Padilha, quando foi lançado (primeiro pelos camelôs) em 2007.

É difícil estabelecer comparações entre os dois, mas um fato é que Salve Geral, no fim das contas, não é um filme interessante. Enquanto em Tropa de Elite existe um Capitão Nascimento, um policial com atitudes e opiniões chocantes para uns, ideais para outros, o filme de Rezende não traz nada de novo: é apenas uma família de classe média amedrontada com o crime e querendo escapar de um pesadelo. Nada mais do que enfadonho. Nem a tentativa de mostrar a organização interna da facção funcionou (razão pela qual alguns podem ter bobamente qualificado a produção como pró-PCC).

Mais do que sobre aqueles dias específicos em que “São Paulo parou”, o filme usa como pano de fundo a história do PCC, o que me parece um indicativo de que seus objetivos são puramente comerciais: arrastar gente para as salas e gerar bons números nas bilheterias.

As “Mâes de Maio”, que tiveram seus filhos assassinados pela polícia em 2006, organizaram protestos contra o filme, que foi considerado desrespeitoso com a verdadeira história das mais de 400 mortes (foram 493 no total, de acordo com dados do IML, sendo que o PCC teria sido responsável apenas por 47).

É apenas uma humilde opinião, mas me parece que o filme não pode ser considerado manipulador e de conteúdo manipulado, já que todos os fatos mostrados realmente aconteceram – queima de ônibus, rebeliões, correria nas ruas etc – e em nenhum momento se afirma que todas as mortes (ou mesmo sua maioria) foram causadas pela facção.

O que se pode questionar é a falta de engajamento, na medida em que poderia ter optado por mostrar todos os episódios, da primeira até a última execução, assim como seus desdobramentos. Mas, ate aí, considero uma grande ilusão acreditar que o cinema ou qualquer outro tipo de atividade com fins puramente comerciais se preste a esse tipo de papel e de luta.

No mais, segue faltando um documentário sobre esses fatos. A lacuna continua aberta. Se algum amigo for fazer, já estou me convidando para participar. E quem sabe, agora, eu me anime a tentar publicar um artigo baseado nas minhas pesquisas com jornais da época.

1.10.09

do russo

Consegui recentemente terminar a aventura de ler Doutor Jivago, do russo Boris Pasternak (que, no original, dizem ser Доктор Живаго). Foram quase 700 páginas que demorou para serem lidas, mas mataram minha curiosidade de saber se o livro era tão bom quanto o filme homônimo do David Lean, de 1965 (mesmo diretor de Lawrence da Arábia, épico que, aliás, também contou com o protagonista de Doutor Jivago, o na época badaladíssimo Omar Sharif).

Não falta linguagem poética e passagens muito bonitas no romance que ganhou o Nobel de Literatura em 1958, um prêmio que, até hoje, causa muita discussão antes política do que literária.

Boris Pasternak era um poeta simpático ao comunismo, mas o comunismo infelizmente não interpretou a obra dele da mesma forma, qualificando-a de "pequeno-burguesa". Com isso, o escritor passou a ser perseguido pelo regime até que foi exilado.

Dessa história nasceu a inspiração de Pasternak para Doutor Jivago, que conta a saga de um médico que, também, poeta, teve seus escritos censurados e proibidos.

A polêmica em torno da premiação baseou-se muito nas críticas que Pasternak fez, em Doutor Jivago, ao regime comunista, principalmente na era Stalin, e na desilusão que ele mostra ao longo da narrativa.

Especulou-se (e especula-se), por isso, que o prêmio a Pasternak teria sido apenas um pretexto para mais uma propaganda anticomunista (eram anos de Guerra Fria) e mostrar a desilusão de um soviético com o governo de seu país.

Bom, depois de ter lido o livro não acredito que a premiação tenha sido apenas política, já que o livro me pareceu ter bastante qualidade. Claro, nunca se sabe a opinião dos críticos literários - eles não costumam gostar de muitas das coisas
que eu aprecio e vice-versa.

Além disso, a primeira versão de Doutor Jivago não saiu na União Soviética, mas apenas na Itália, pelo diretor milanês Giangiacomo Feltrinelli, integrante do Partido Comunista italiano. Em território soviético mesmo, o livro só foi lançado em 1989, tornando-se um best-seller.


De qualquer forma, acho interessante a história do Boris Pasternak e,fazendo uma busca no amigo Google, não encontrei os poemas do escritor. AInda que não tão famosos quanto seu livro, fizeram bastante sucesso em sua época.

Pela raridade que eles parecem ter se tornado - pelo menos em português na internet, resolvi postar esse, com o qual simpatizei:

Outono

Deixei que se perdessem meus amados
e há muito desconheço seus destinos,
e, dentro da alma à natureza infinda
tudo recende em sólidos perenes.

Vivo contigo aqui nesta cabana,
neste bosque tão ermo, tão deserto;
E as sendas, como na canção silvana,
são de pronto apagadas pelas ervas.

E assim, pois, nos contemplam bem de perto
essas tristes paredes de madeira.
Se jamais prometemos grandes gestos,
a nossa morte, enfim, será sincera.

Passamos duas horas assentados:
enquanto leio, bordas coisas claras
e, no raiar da aurora, distraídos,
não sabemos quando os beijos cessaram.

Passai, ó folhas, em vossa beldade
descuidada, passai entre sussurros,
que o cálice da véspera se acabe
a transbordar de angústia mais escura.

Sublimação, fascínio intemporais!
Que o fragor de setembro nos proteja!
E dentro dos sussurros outonais
tu desmaies ou percas a cabeça!

E tal como no bosque as folhas lassas
assim deixas cair os teus vestidos,
quando, esquecida de ti, eu te abraço,
nessa veste sedosa e delicada.

Ah, és o bem de um passo temerário,
quando viver não passa de um desgosto;
mas a beleza é sempre refratária,
e nisto se aproximam nossos rostos.

(Tradução de Zoia Prestes)

27.9.09

not many have style

Procurei um vídeo que tivesse legendas em português, mas não encontrei. Resolvi postar mesmo assim. Esse foi meu trecho preferido de Crônica de Um Amor Louco, dirigido pelo Marco Ferreri, de 1981. Tenho minhas ressalvas quanto a filmes propositadamente cults, mas acredito que esse teria agradado o Bukowski. E me deu vontade de conhecer Los Angeles - a parte do "submundo" ainda deve ser divertida. Ah, e quero ler o livro.



Chega de papo-furado e vamos direto ao que chamamos de “Arte”… Estilo. Estilo é a resposta de tudo.É um jeito especial de fazer uma tolice ou algo perigoso. Antes fazer uma tolice com estilo, do que algo perigoso sem estilo. Fazer algo perigoso com estilo é o que eu chamo de arte. Uma tourada pode ser arte. O boxe pode ser arte. Amar pode ser arte. Abrir uma lata de sardinha pode ser arte. Poucos têm estilo. Poucos mantêm o estilo. Já vi cães com mais estilo que os homens, apesar de que poucos cães têm estilo. Gatos têm mais estilo. Quando Hemingway estourou seus miolos, teve estilo. Há pessoas que dão estilo. Joana D’Arc tinha estilo. João Batista, Jesus, Sócrates, César, Garcia Lorca. Conheci homens na prisão com estilo. Conheci mais homens na prisão com estilo do que fora. Estilo faz a diferença. O jeito de se fazer. O jeito de ser feito. Seis garças tranquilas na beira de um lago ou você, saindo nu do banheiro sem me ver.

16.8.09

distração charmosinha (II)

Um baile depois, aprendi a colocar vídeos no blog...

14.8.09

distração charmosinha


Sabe aqueles momentos em que não estás a fim de pensar em nada? Não tem nenhuma revista de fofocas a mão pra folhear? E a programação da televisão, em vez de te distrair, te irrita cada vez mais?

Uma sugestão é passar em uma locadora que tenha filmes antigos e alugar Sabrina, de 1954, comédia romântica do Billy Holliday.

Filha do chofer de uma big mansão, Sabrina (Audrey Hepburn) é uma mocinha desajeitada e apaixonada por um dos herdeiros de toda a fortuna, David (William Holden).

Mandada a Paris para fazer um curso de culinária, Sabrina volta refinadíssima aos Estados Unidos e desperta, além do amor de David, a atenção do outro irmão Linus (Humprey Bogard).

Sim, ela ficará com um deles. A rasidão do roteiro é uma pista da obviedade e da falta de surpresa que seguem em todo o desenrolar da história.

Ainda que renda razoáveis risadas, o filme em momento algum surpreende o espectador, que vai acompanhando a trama como um conto de fadas já visto antes.

O filme ganha, porém, é no quesito charme. Ainda que não cative como A Princesa e o Plebeu (que valeu um Oscar para Audrey Hepburn), Sabrina tem ótimas cenas, como aquela em que a protagonista cantarola La Vie em La Rue enquanto Linus dirige um conversível de volta à mansão.

Bem, Audrey Hepburn cantando Edith Piaf ao lado de Humprey Bogard... No mínimo tentador para quem é atraído por um cineminha retrô.

O filme fica também como dica para quem gosta de comédias românticas (o que não bem é meu caso, que alugo filmes como esse só pela presença da Audrey Hepburn) mas quer fugir de criaturas como Ashton Kutscher, Jennifer Lopez, Hugh Jackman que permeiam a atual filmografia.

16.4.09

só para os fortes


Assisti a cerca de dois terços do filme "O Prisioneiro da Grade de Ferro", feito em 2003 dentro do Carandiru. A ideia que originou o documentário foi mais ou menos a mesma que alguns colegas e eu tivemos para uma cadeira da Ufrgs: ministrar uma oficina de vídeo - no nosso caso, para menores apenados, jovens infratores ou seja qual for a expressão politicamente correta da vez.
Não conseguimos entregar a câmera para os meninos - em grande parte pela burocracia da universidade, mas oferecemos a pelo menos o microfone para que pudessem relatar o que só eles conseguem sentir.
No caso do "Prisioneiro", não sei bem como eles fizeram, qual foi a preparação, mas o fato é que o trabalho de filmagem saiu dos próprios presos. E o resultado é surpreendente.
Não é um filme para estômagos fracos. Em uma das cenas, a câmera acompanha os ratos que povoavam o presídio. E eram senhores roedores rechonchudos. Eu levantei do sofá e saí, nesse momento, confesso, porque era a barbárie da imundície.
Em outra passagem, aparece um fotógrafo - um cara que tirava fotos dos detentos vivos e, depois, mortos durante rebeliões ou outros acertos de contas. E as imagens foram mostradas, todas, dos vivos e dos mortos, sem disfarces nem vontade de atenuar qualquer choque.
Teve também um trecho sobre o caos na enfermaria. Gente com todo tipo de sequela, doença, pereba ou problema de saúde que tu fores capaz de imaginar.
Como no livro "Estação Carandiru", do Dráuzio Varela (que, aliás, aparece no documentário realizando consultas), o filme mostra uma série de personagens e histórias, pavilhão por pavilhão. Os estrangeiros que estão presos sem julgamento, os homossexuais que se prostituem em troca de merrecas, um fabricante de cachaças artesanais, outros artistas, escultores...
Ainda que todo o trabalho seja ótimo, o que realmente me deu inveja e vontade de ter feito o documentário foi a última cena que eu vi, quando já estava com um sono além do suportável.
No último dia do ano, um grupo de detentos assiste à queima de fogos de artifício que acontece todos os anos na Avenida Paulista. É como se a gente tivesse, então, o ponto de vista de quem admira tudo aquilo por trás das grades de ferro.
E eles elogiam o show pirotécnico. "Olha lá, mano, que bonito", certamente lembrando-se das suas pessoas queridas que estão do lado de fora.
Também não falta uma mostra de politização. "Olha lá, o símbolo do capitalismo", diz um deles enquanto se refere ao prédio do Banespa.
Quero muito terminar de ver. Com certeza, voltarei para contar como foi o resto. Mas a gente nem precisa ver o final de certas histórias para concluir que está absolutamente tudo errado.

17.3.09

vivien leigh e audrey hepburn só para mim

Ontem me dei um presente. Dois, aliás. Encontrei em promoção nas Lojas Americanas DVDs de "E o Vento Levou" e "My Fair Lady", perdidos no meio de alguns outros títulos bons e de coisas horrorosas que nem amarrada eu assistiria. Agora vou poder ver a Scarlett O'Hara e a Audrey Hepburn cantando (dublando, melhor dizendo) quando eu quiser! Realmente, não preciso de televisão.
Tudo para compensar minhas idas tão raras ao cinema depois da morte da minha carteirinha de estudante.

11.4.08

melhor filme dos últimos tempos



Recomendo MUITO. O Jardim Secreto (Secret Garden, 1993). Direção de Agnieszka Holland e produção de Francis Ford Coppola.

31.3.08

o policialesco nos tempos áureos


Estou triste. Ah, nem tanto assim. Afinal, quando eu li na sessão de fofocas da Folha que morreu o Jules Dassin, nem associei o nome à pessoa. Dassin foi quem dirigiu Cidade Nua, em 1948. Por isso, não posso ser mentirosa e dizer que senti demais, mas o fato é que Cidade Nua é um dos meus filmes preferidos e foi meu primeiro contato com o noir. Ah, sem falar da fotografia, fantástica, que ganhou um Oscar em PB.
A história é o homicídio da modelo Jean Dexter em seu próprio apartamento. O assassino mata também o cúmplice. A partir daí, dois investigadores passam a investigar o caso, com várias pistas e distorções e repórteres pentelhos e tudo para quem gosta de tramas policialescas.
Para aqueles que vivem reclamando de não terem vivido a época clássica do jornalismo das máquinas de escrever, dos bloquinhos charmosos e das ligações via telefonista, Cidade Nua é uma ótima forma de catarsear e xingar essa mania desgraçada de jornalismo bunda-na-cadeira.

27.3.08

parem de trucidar os filmes!

Minha mãe conta que, quando assistiu a Dr. Jivago no cinema – e por duas vezes, a sortuda -, o filme tinha mais de cinco horas de duração. Então alguém pode me explicar porque a versão em DVD que a gente alugou no final de semana só tinha três horas e vinte minutos? Onde raios enfiaram o resto?
Maldita a mania de cortar e "reduzir" os filmes. Desserviço desgraçado. Tenho certeza de que aconteceu a mesma coisa com E O Vento Levou, que deve ter mais do que as quatro horas de duração "atuais". Isso significa que ou eu nasço na época em que o filme é lançado, ou corro o risco de que, anos depois, alguém "edite" uma fita a seu bel-prazer. Apenas porque achou "grande" ou "chato" ou porque quer agradar quem, com duas horas de filme, começa a se remexer na cadeira.
Eu gosto de filmes longos, muito longos, não me importo com isso. Tanto que assisti, com a minha mãe, a Pássaros Feridos em um mesmo dia, com suas nove horas de duração. Tanto eu quanto ela gostamos de "longas longos". Por que nós então somos praticamente privadas da chamada versão do diretor, aquilo que ele achava que a gente devia ver?
Francamente, quem não tem paciência pra filmes "compridos", que vá pegar uns curtas na locadora. Mas não trucidem os clássicos como se faz com as novelas no Vale a Pena Ver de Novo.