28.10.10

foucault mais vivo do que nunca

Vi ainda na semana passada Tropa de Elite 2, do José Padilha, em uma simpática promoção de um cinema na Avenida Paulista.

Queria fazer um texto legal sobre o filme, mas o cansaço e a falta de tempo têm atrapalhado. Mesmo assim, fico incomodada em não escrever nada a respeito de um assunto – violência e conflito social – que sempre esteve entre os mais interessantes pra mim.

Nunca concordei com a visão das pessoas, em geral, a respeito do primeiro Tropa. Mas deve ter muito a ver com o fato de eu ter lido, bem antes, “Elite da Tropa”, livro do Luiz Eduardo Soares e dos ex-soldados André Batista e Rodrigo Pimentel.

A primeira do livro, descritiva, relatava o mundo do Bope e o treinamento dos policiais. Cheio de cenas feias e grotescas, como parecem ser as “aulas” mesmo.

Já a segunda parte é uma ficção, e o texto é algo como um conto, que lembra deveras Agosto, do Rubem Fonseca (mas sem a mesma qualidade). O que aparece, então, é o lado burocrático do crime. Em vez da violência dos morros e das armas do Bope, a corrupção dos agentes nos gabinetes, dos políticos... Na trama, até mesmo o governador estaria envolvido.

Quando fui enfim assistir Tropa de Elite, achei estranhíssimo essa segunda parte ficar de fora. Aparecia a classe média, os conflitos psicológicos do personagem principal, mas por onde andaria a banda podre dos gabinetes¿

Tornou-se, justamente, o enredo do segundo, com base na atuação das milícias sobre as comunidades pobres do Rio.

Por isso eu tenho a audaciosa tese de que o Padilha não foi convencido porcaria nenhuma de que fazer um segundo. Eu apostaria que esse segundo nasceu, na cabeça dele, junto com o primeiro. A história é uma só.

E para quem reclamou do pouco caso de Padilha com Michel Foucault, Tropa de Elite 2 pode ser, de certa forma, redentor. Com a descoberta de como funciona o “sistema”, Capitão Nascimento consegue ver e mostrar que Foucault e seu “Vigiar e Punir” estão mais vivos do que nunca.

Saí do cinema com uma sensação de que estou do lado certo. De que as lutas valem muito a pena.

Um viva final para o Marcelo Freixo (o Fraga do filme na vida real), pela coragem, e para o José Padilha, que conseguiu levar todo mundo pro cinema com filmes inteligentes e politizados, sem apelar para a fórmula das horrendas comédias nacionais.

Junto com Ônibus 174 e o primeiro Tropa de Elite, o diretor conseguiu um panorama fantástico sobre o conflito social no Rio de Janeiro. Assuntos difíceis e complexos para um post só, mas os problemas que José Padilha desnuda estão longe de uma solução fácil. Pelo menos agora dá pra dizer: só não vê quem não quer.

Um comentário:

PAULA SALOMÃO disse...

Oi, Pati, escolheste muito bem as fotos para ilustrar o teu post inteligentíssimo. E, para constar, concordo em absolutamente tudo o que disseste nele.
Beijão!