
Vi ainda na semana passada Tropa de Elite 2, do José Padilha, em uma simpática promoção de um cinema na Avenida Paulista.
Queria fazer um texto legal sobre o filme, mas o cansaço e a falta de tempo têm atrapalhado. Mesmo assim, fico incomodada em não escrever nada a respeito de um assunto – violência e conflito social – que sempre esteve entre os mais interessantes pra mim.
Nunca concordei com a visão das pessoas, em geral, a respeito do primeiro Tropa. Mas deve ter muito a ver com o fato de eu ter lido, bem antes, “Elite da Tropa”, livro do Luiz Eduardo Soares e dos ex-soldados André Batista e Rodrigo Pimentel.
A primeira do livro, descritiva, relatava o mundo do Bope e o treinamento dos policiais. Cheio de cenas feias e grotescas, como parecem ser as “aulas” mesmo.
Já a segunda parte é uma ficção, e o texto é algo como um conto, que lembra deveras Agosto, do Rubem Fonseca (mas sem a mesma qualidade). O que aparece, então, é o lado burocrático do crime. Em vez da violência dos morros e das armas do Bope, a corrupção dos agentes nos gabinetes, dos políticos... Na trama, até mesmo o governador estaria envolvido.
Quando fui enfim assistir Tropa de Elite, achei estranhíssimo essa segunda parte ficar de fora. Aparecia a classe média, os conflitos psicológicos do personagem principal, mas por onde andaria a banda podre dos gabinetes¿
Tornou-se, justamente, o enredo do segundo, com base na atuação das milícias sobre as comunidades pobres do Rio.
Por isso eu tenho a audaciosa tese de que o Padilha não foi convencido porcaria nenhuma de que fazer um segundo. Eu apostaria que esse segundo nasceu, na cabeça dele, junto com o primeiro. A história é uma só.
E para quem reclamou do pouco caso de Padilha com Michel Foucault, Tropa de Elite 2 pode ser, de certa forma, redentor. Com a descoberta de como funciona o “sistema”, Capitão Nascimento consegue ver e mostrar que Foucault e seu “Vigiar e Punir” estão mais vivos do que nunca.
Saí do cinema com uma sensação de que estou do lado certo. De que as lutas valem muito a pena.
Um viva final para o Marcelo Freixo (o Fraga do filme na vida real), pela coragem, e para o José Padilha, que conseguiu levar todo mundo pro cinema com filmes inteligentes e politizados, sem apelar para a fórmula das horrendas comédias nacionais.
Junto com Ônibus 174 e o primeiro Tropa de Elite, o diretor conseguiu um panorama fantástico sobre o conflito social no Rio de Janeiro. Assuntos difíceis e complexos para um post só, mas os problemas que José Padilha desnuda estão longe de uma solução fácil. Pelo menos agora dá pra dizer: só não vê quem não quer.
Um comentário:
Oi, Pati, escolheste muito bem as fotos para ilustrar o teu post inteligentíssimo. E, para constar, concordo em absolutamente tudo o que disseste nele.
Beijão!
Postar um comentário