Posso não ser uma grande e frequente tiradora de fotos (culpa da combinação falta de ânimo + falta de talento), mas no quesito exposições não faço feio. No sábado encarei o dia ranzinza, com cara de chuva, para ver a exposição do Antanas Sutkus no Instituto Tomie Ohtake. Não sabia nada sobre ele, com exceção de ter nascido na Lituânia.
São lindas as fotos. E o material utilizado na revelação é diferente também, parece meio fosco, dá um ar ainda mais antigo para as imagens.
Além do acervo o que me encantou foi esse texto que estava em uma das paredes da sala da exposição. (Só achei parte dele na internet, a versão que estava lá era maior, mas dá para ter uma ideia.)
O dia a dia é algo entediante. Todos têm o mesmo direito ao dia a dia: não há a necessidade de nenhum Comitê de Defesa do dia a dia ! Persistentemente, tentando nos manter no mesmo ritmo do dia presente, nós aprendemos a contemplar, a meditar, e muitas outras coisas esplêndidas. E será que a observação do dia a dia é uma forma de meditação aberta a todos nós ? Meditação que não necessita de escolas ou guru.
O dia a dia é universal, ele não se sujeita a ninguém.
Eu retorno ao passado e vejo que eu não consigo me lembrar nem do tempo e nem do lugar onde esta ou aquela fotografia foi "capturada". |Eu estou constantemente sem tempo ! Só restam as primeiras horas da manhã que podem ser gastas tomando um café. olhado os meus arquivos.
Com uma frequência cada vez maior, eu vivo a alegria faustiana - eu "tiro fotos" na juventude, colecionando fotos dos tempos passados e olhando para elas com o sentimento de um homem, cujo tempo está passando . Este é o ponto no qual o conhecimento de vida e a intuição se encontram. Isto é tudo que eu tenho.
No Pinterest dá para ver mais algumas imagens. E parar mim fica como MAIS UM estímulo para eu deixar a máquina fotográfica à mostra e ao alcance das minhas mãos.
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4.12.13
30.9.10
niños y niñas (3)
29.9.10
niños y niñas (2)
28.9.10
niños y niñas (1)
25.9.10
13.7.10
renasce minha zenit

Tenho a máquina há cinco anos e ainda não consigo rebobinar um filme. Só sei apertar o botão principal e regular os botõezinhos menores, de foco e cia., os quais não tem jeito de gravar o nome. Se bobear, meu pai sabe mexer na câmera melhor do que eu.
E não sei dizer a razão para essa minha preguiça. Eu gosto de fotografia. E não me acho uma fotógrafa tão desastrosa.
Enfim, mudarei isso. Era resolução de ano novo e continua sendo.
30.3.10
juazeiro, petrolina e uma conversa no rio
Continuo cansada da viagem a Juazeiro (Bahia) na semana passada, onde fui cobrir o Encontro Nacional da Articulação do Semiarido Brasileiro. Mas é daqueles raros cansaços que valem a pena.
A viagem apareceu de uma hora para outra e, como não conhecia o Nordeste, achei mais ideal do que nunca. Me candidatei no jornal e consegui.
O melhor de todos os dias foi mesmo a quarta-feira, dia 24, quando fui visitar a comunidade de Ferrete, em Curaçá, município vizinho a Juazeiro, que pode ser atingida pela construção das hidrelétricas de Pedra Branca e Riacho Seco, pauta que propus e foi aceita.

Pedi ao João Teles, do Movimento dos Atingidos por Barragens, para entrevistar alguns moradores da comunidade, já que eu vinha de tão longe e não poderia perder uma oportunidade como aquela. Ele concordou, avisando que bateríamos na casa de alguém durante o caminho até a margem do rio.
Era pouco antes do almoço, e a maioria das pessoas adultas estava nas lavouras próximas, trabalhando. Teria que esperar um pouco, talvez no retorno haveria alguém em casa.
Na margem do rio, daquele maravilhoso rio Sâo Francisco, havia uma senhora lavando roupas com uma enorme bacia. Cena que, na hora em que vi, me lembrou aquelas matérias de Globo Repórter em um lugar bonito e distante (dos tempos em que o programa era bom).
Tinha uma criança brincando no rio, próximo a ela, não sei se era filho ou filha, e fiquei encantada com a sinceridade daqueles gestos de quem lavava roupas e de quem nadava e brincava naquela imensidão de água.
Do outro lado, uma das mulheres que também visitava a comunidade foi lavar um pouco os pés e as mãos no rio, lembrar a época de moça em que vivia perto do São Francisco, antes de ser removida pela barragem de Sobradinho, não muito longe dali.

Era tão diferente e tão bucólico, no melhor sentido, que me distraí, pessoas tão felizes só pela presença do rio. Nem me dei conta de que a senhora que lavava roupas morava na comunidade e era justamente um dos alguéns que eu procurava.
Quando disseram que ela poderia conversar comigo, fiquei realmente emocionada. Eu estava no sertão nordestino entrevistando uma ribeirinha de verdade, aqueles personagens do Brasil que só parecem existir nas lendas. Uma realidade tão distinta. Aquilo era coisa de repórter gente grande.

Eu estava praticamente dentro do rio, mal ouvia o que ela falava por causa do barulho das pessoas e da água. E ela continuava lavando roupa. A todo o momento Dona Maria Eunice escondia o rosto, olhava para baixo e ria, morrendo de vergonha de falar com jornalista.
Agradeci a pequena entrevista, me despedi e deixei que continuasse com o trabalho – provavelmente faria ainda o almoço ou teria ainda outra tarefa.
Conversei com outro ribeirinho (esse mais cosmopolita do que eu, duas décadas vividas em Sâo Paulo) e voltei para ficar com o grupo. Quando saíamos da margem do rio, Dona Maria Eunice, discretamente, me chamou. Era um “venha cá” que parecia um “tchau”, fiquei até confusa na hora. Mas enfim entendi e fui até ela, que queria ver a foto que o Luca havia tirado enquanto lavava roupa.
Pedi ao Luca que, gentilmente, mostrou à senhora que, a essa altura, ria com a comadre ou parente do gênero que também chegava para aproveitar a água do rio. Se Dona Maria Eunice já se viu em alguma foto na vida, faz muito tempo. Como havia sol, muito sol, Luca improvisou uma toalha para bloquear a luminosidade e permitir que a imagem fosse vista com mais nitidez.
Ainda brincamos, “se não gostou, ele tira mais”. Ela gostou, claro, mas acho que gostou mais do momento, aquela gente toda estranha querendo uma foto dela.
Com um tchau nos despedimos. Ela continuou lavando roupa, e eu fui encontrar o pessoal embaixo de uma árvore. Pedi ao Luca, claro, que, pelo amor de Deus, guardasse aquelas fotos para minha matéria no jornal.
A conversa com Dona Maria Eunice rendeu algumas frases entrecortadas para a reportagem sobre o avanço das barragens na região do semiarido, mas a importância da cena foi bem maior do que isso.

Acho que nunca me senti tão jornalista em toda a minha vida ao conversar com aquela senhora, e meu próprio espanto em poder entrevistar uma pessoa lavando roupas no São Francisco me faz crer que estou no caminho certo. Que estou no caminho de quem não deixa de se surpreender e entende que a personagem é a verdadeira a protagonista de toda história.
Em tempos de jornalismo covarde e que se faz sentado, é um sopro de vida estar em cidades lindas como Juazeiro, Petrolina e Curaçá, conhecendo pessoas e não estatísticas.
A viagem valeu mais do que as duas páginas prometidas, com certeza.
A viagem apareceu de uma hora para outra e, como não conhecia o Nordeste, achei mais ideal do que nunca. Me candidatei no jornal e consegui.
O melhor de todos os dias foi mesmo a quarta-feira, dia 24, quando fui visitar a comunidade de Ferrete, em Curaçá, município vizinho a Juazeiro, que pode ser atingida pela construção das hidrelétricas de Pedra Branca e Riacho Seco, pauta que propus e foi aceita.
Pedi ao João Teles, do Movimento dos Atingidos por Barragens, para entrevistar alguns moradores da comunidade, já que eu vinha de tão longe e não poderia perder uma oportunidade como aquela. Ele concordou, avisando que bateríamos na casa de alguém durante o caminho até a margem do rio.
Era pouco antes do almoço, e a maioria das pessoas adultas estava nas lavouras próximas, trabalhando. Teria que esperar um pouco, talvez no retorno haveria alguém em casa.
Na margem do rio, daquele maravilhoso rio Sâo Francisco, havia uma senhora lavando roupas com uma enorme bacia. Cena que, na hora em que vi, me lembrou aquelas matérias de Globo Repórter em um lugar bonito e distante (dos tempos em que o programa era bom).
Tinha uma criança brincando no rio, próximo a ela, não sei se era filho ou filha, e fiquei encantada com a sinceridade daqueles gestos de quem lavava roupas e de quem nadava e brincava naquela imensidão de água.
Do outro lado, uma das mulheres que também visitava a comunidade foi lavar um pouco os pés e as mãos no rio, lembrar a época de moça em que vivia perto do São Francisco, antes de ser removida pela barragem de Sobradinho, não muito longe dali.

Era tão diferente e tão bucólico, no melhor sentido, que me distraí, pessoas tão felizes só pela presença do rio. Nem me dei conta de que a senhora que lavava roupas morava na comunidade e era justamente um dos alguéns que eu procurava.
Quando disseram que ela poderia conversar comigo, fiquei realmente emocionada. Eu estava no sertão nordestino entrevistando uma ribeirinha de verdade, aqueles personagens do Brasil que só parecem existir nas lendas. Uma realidade tão distinta. Aquilo era coisa de repórter gente grande.
Eu estava praticamente dentro do rio, mal ouvia o que ela falava por causa do barulho das pessoas e da água. E ela continuava lavando roupa. A todo o momento Dona Maria Eunice escondia o rosto, olhava para baixo e ria, morrendo de vergonha de falar com jornalista.
Agradeci a pequena entrevista, me despedi e deixei que continuasse com o trabalho – provavelmente faria ainda o almoço ou teria ainda outra tarefa.
Conversei com outro ribeirinho (esse mais cosmopolita do que eu, duas décadas vividas em Sâo Paulo) e voltei para ficar com o grupo. Quando saíamos da margem do rio, Dona Maria Eunice, discretamente, me chamou. Era um “venha cá” que parecia um “tchau”, fiquei até confusa na hora. Mas enfim entendi e fui até ela, que queria ver a foto que o Luca havia tirado enquanto lavava roupa.
Pedi ao Luca que, gentilmente, mostrou à senhora que, a essa altura, ria com a comadre ou parente do gênero que também chegava para aproveitar a água do rio. Se Dona Maria Eunice já se viu em alguma foto na vida, faz muito tempo. Como havia sol, muito sol, Luca improvisou uma toalha para bloquear a luminosidade e permitir que a imagem fosse vista com mais nitidez.
Ainda brincamos, “se não gostou, ele tira mais”. Ela gostou, claro, mas acho que gostou mais do momento, aquela gente toda estranha querendo uma foto dela.
Com um tchau nos despedimos. Ela continuou lavando roupa, e eu fui encontrar o pessoal embaixo de uma árvore. Pedi ao Luca, claro, que, pelo amor de Deus, guardasse aquelas fotos para minha matéria no jornal.
A conversa com Dona Maria Eunice rendeu algumas frases entrecortadas para a reportagem sobre o avanço das barragens na região do semiarido, mas a importância da cena foi bem maior do que isso.

Acho que nunca me senti tão jornalista em toda a minha vida ao conversar com aquela senhora, e meu próprio espanto em poder entrevistar uma pessoa lavando roupas no São Francisco me faz crer que estou no caminho certo. Que estou no caminho de quem não deixa de se surpreender e entende que a personagem é a verdadeira a protagonista de toda história.
Em tempos de jornalismo covarde e que se faz sentado, é um sopro de vida estar em cidades lindas como Juazeiro, Petrolina e Curaçá, conhecendo pessoas e não estatísticas.
A viagem valeu mais do que as duas páginas prometidas, com certeza.
5.6.09
"fotojornalismo" que envergonha

Está certo que abusar da emoção e da fragilidade alheias para vender jornal nunca foi novidade, mas essa foto aí, esbugalhada na primeira página da Folha, sobre uma missa para os familiares dos que estavam no avião da Air France, me chocou de verdade:
Mais do que publicar, a pergunta é: precisava alguém tirar uma foto dessas?
1.4.07
fotos de Angola

Na última quinta-feira, dei um pulo até o Santander depois do trabalho para o lançamento em Porto Alegre de um livro de fotos tiradas em Angola. O fotógrafo é Leandro Taques, um free-lancer de Curitiba. Muito boas as fotos. Não entendi direito todos os trâmites para o lançamento de O retrato da paz, mas a publicação foi viabilizada pela Petrobras. São fotos e textos (os escritos de outro jornalista) sobre a reconstrução de Angola depois de 40 e tantos anos de guerra civil. São fotos em preto e branco, de velhos, crianças e paisagens do país africano.
As fotos são muito interessantes e bonitas, mas o melhor de tudo foi ainda saber que tem jornalista correndo atrás de história pra contar, sem ficar preso no presente de seu lugar. Foi bom saber que ainda existe pelo menos um repórter disposto a contar o que acontece em um lugar esquecido. Que existe alguém que acredita na profissão e volta com um monte de histórias fantásticas dentro da mochila. Casos como o desse fotógrafo são sempre bem-vindos, em uma época onde os meus sonhos parecem pertencer a um passado cada vez mais distante.
As fotos são muito interessantes e bonitas, mas o melhor de tudo foi ainda saber que tem jornalista correndo atrás de história pra contar, sem ficar preso no presente de seu lugar. Foi bom saber que ainda existe pelo menos um repórter disposto a contar o que acontece em um lugar esquecido. Que existe alguém que acredita na profissão e volta com um monte de histórias fantásticas dentro da mochila. Casos como o desse fotógrafo são sempre bem-vindos, em uma época onde os meus sonhos parecem pertencer a um passado cada vez mais distante.
Melhor, só se eu tivesse ganho o livro no sorteio que foi feito. Mas valeu mesmo assim.

25.3.07
a nostalgia do arpoador

Queria ter tirado fotos do Arpoador, como de todos os lugares por onde eu passei pelo Rio de Janeiro, mas o fato de não ter uma câmera serve de justificativa. Só que pela primeira vez eu não preciso olhar as imagens dos outros. Basta eu lembrar do fim de tarde em que eu subi na pedra e fiquei olhando um pôr do sol que surgiu pra mim, já que a hora me pareceu, durante aquela semana, algo completamente dispensável. Ao subir no Arpoador entendi porque foi o lugar preferido do Cazuza. E, sem querer desmerecer Porto Alegre, só acha exuberante o pôr do sol do Guaíba quem nunca pisou no Rio de Janeiro. Não foi necessário fotografar o Arpoador. Ele permanece na minha memória.
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