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7.7.13

o sorvete da banca 40

Toda vez que vou a Porto Alegre, agora como visitante da cidade, passo pelo Mercado Público. Impossível não passar. Minhas pernas me levam até lá, seja para almoçar ou simplesmente sentir aquele chão rústico, caminho de tantos porto-alegrenses em mais de um século de história.

Nunca tomei o sorvete da tradicional Banca 40. Já almocei, lanchei, tomei água, tudo, mas jamais tomei o sorvete. Sempre encontrei razão para não fazê-lo. Ou não era calor, ou eu achei caro, ou estava com fome, ou com pressa, ou um algo que sempre me separou das bolinhas geladas. Sempre ia embora e pensava "na próxima eu tomo".

Cintia Grillo - Pinterest

Ontem, enquanto eu acompanhava o fogaréu que tentava consumir o Mercado Público, lembrei do sorvete. E que aquele "próxima vez", de que tanto fazemos uso na vida, pode nunca chegar. Se o local tivesse sido destruído, jamais teria a chance de provar aquela denúncia anunciada.

O Niemeyer dizia que a vida é um sopro. Ele tinha toda a razão. Por isso, quando voltar a Porto Alegre, vou correndo tomar sorvete na Banca 40. E se estiver em um dia inspirado ainda compro o maior e o mais caro.

22.4.13

dez anos e muitas vidas

Dai que hoje faz DEZ anos que eu entrei na faculdade. Já passei por umas tantas mudanças, mas a troca de Farroupilha por Porto Alegre foi a maior de todas. E também a melhor. Se tivesse que dividir a minha vida, seria algo como Pati A.F. (antes da Fabico) e Pati D.F. (depois da Fabico).

Mais do que isso não quero escrever, é tanta lembrança e tanta divagação que nem caberiam em um só blog.

7.12.12

o fórum

Daí que o útil e o agradável nunca andaram tão juntos na minha vida como semana passada. Surgiu uma vaga para cobrir o Fórum Social Mundial da Palestina em Porto Alegre e eu, com saudades da cidade e interessada no assunto, logo me candidatei animadamente.

Foi a minha primeira cobertura de FSM. Não direi que é a última, mas pensarei bem antes de aceitar outra empreitada dessas. É cansativo, menos organizado do que deveria e costumar ser na capital dos pampas no verão, quer dizer, é quente.

Mas valeu muito a experiência. Nem sei dizer do que mais gostei, se foi passar quatro dias vagando para cima e para baixo por Porto Alegre, ouvir tanta gente falando árabe ao mesmo tempo ou me juntar à causa palestina, uma das demandas mais urgentes e justas da humanidade há tempos.

Mas uma coisa é certa. O melhor momento de todos foi a Marcha do Fórum.


Umas dez mil pessoas se juntaram para dizer que os palestinos TÊM que ter e VÃO ter seu Estado. Em um ponto da caminhada era a galera de Porto Alegre embalando um sambão; metros atrás, os palestinos entoando com toda a força umas músicas árabes – pareciam hinos, não descobri o que era.




Depois, no caminhão de som já no Gasômetro, em muitas línguas, todo mundo saudava a decisão da Assembleia Geral da ONU, que reconheceu o Estado palestino. Obviamente, o discurso mais tocante era dos árabes. Nem só por serem os diretamente envolvidos, mas porque a língua árabe é, de longe, a mais forte de todas. Que lindo é povo árabe. Que gente fascinante.

Não sou de me empolgar fácil com mobilizações políticas, mas essa me ganhou. Terminei a caminhada fazendo umas entrevistas, dando uma banda no Gasômetro – mais inspirador impossível, comendo um sanduíche delícia de falafel e com a bandeirinha da Palestina pendurada na mochila. 



É daquelas raras horas que a gente agradece estar onde está e se vê um pouquinho parte da história. O autorretrato foi no dia seguinte, mas serviu para registrar a passagem :)




Mais fotos e tentativas fotográficas no meu Flickr.

17.6.09

inegável

Dos vários prazeres que eu tive no meu feriadão no Rio Grande, um deles foi aterrisar pela primeira vez no Salgado Filho. Defitivamente, pousar e pisar em Porto Alegre depois de meses de saudade, no melhor portoalegrês, é muito afudê.

30.12.08

testemunhos de um ano que se vai

Esse ano parece tão longo que, em vez de ano, parece que se encerra um período de tempo bem maior. Às vezes nem acredito que tantas coisas aconteceram em um mesmo ano. Formatura, debandada de Porto Alegre, semanas de incerteza em Farroupilha, chegada em São Paulo, afinal o emprego e ainda um emprego tão melhor...
Piegasmente falando, só tenho a agradecer neste ano. Aconteceram, sim, coisas difíceis, como deixar Porto Alegre que, até hoje, foi a cidade onde mais gostei de morar (São Paulo é legal, mas aquele universo de concreto surta a gente de vez em quando). Também tem sido ruim viver longe dos meus amigos do tempo de faculdade e da minha família, dos amigos do interior, tudo aquilo com que a gente cresceu e está acostumado.
Mas não posso deixar de reconhecer que São Paulo tem me feito muito bem. São Paulo representa a segunda chance que eu resolvi me dar. Tomei coragem de deixar o que eu tinha para tentar descobrir se a vida podia ser menos cinzenta do que vinha sendo.
Nisso existe um certo paradoxo porque, ao mesmo tempo em que eu gostava de Porto Alegre e de todas as pessoas, havia algo que não mais me satisfazia. Eu já não acordava, nesses últimos meses, com a mesma vontade por lá. E hoje eu sei o motivo disso: é porque eu não acreditava mais em nada, não tinha mais esperanças em nada e não acreditava que nada de interessante viesse acontecer.
A impressão que tenho, tantos meses depois, é de que coisas boas só se realizaram porque eu decidi abrir mão de outras. Como se fosse um preço a pagar. O batido ”não se pode ter tudo”. Talvez.
E os fatos se sucederam tão rápido como se fossem um sinal de que, naquele momento eu deveria ficar em São Paulo, que aquele era meu lugar. Tudo em uma semana: encontrei um lugar para morar, um trabalho que me garantiria por lá e a pessoa que tanto busquei e que quase havia desistido de encontrar.
Era para ser isso como uma retrospectiva de 2008 – algo que minha nostalgia intrínseca insiste em gostar – mas saiu como um monte de divagações bem desorganizadas. Serve, de qualquer forma.
Só mesmo, tudo isso, para dizer que este blog não está tão abandonado quanto parece e que a tendência é de, em 2009, as postagens sejam mais freqüentes – e bem melhores.
E, em muito tempo, eu quero que chegue o ano novo – não porque este foi horrível, mas é só a vontade de fazer tudo ainda melhor.

23.12.08

o rio grande me espera!

Depois de sete meses, vou voltar para minha terrinha - visitar, porque em janeiro estou de volta ao caos, aos carros e às sinaleiras que não funcionam quando chove.
Amanhã, chego em Farrópis. Início de janeiro, vou pra Porto Alegre, passar uns dois diazinhos e apresentar a capital de 5 graus no inverno e 45 no verão para quem vai a tiracolo.
Vai ser divertido.
De lá, escrevo mais.
Agora, vou arrumar malinha para ver papai e mamãe e levar bugigangas de Belém.

5.11.08

azar do inferno

Passei cinco anos em Porto Alegre e a "maior" atração de que me lembro na Feira do Livro foi o Caco Barcellos. Fora isso, o grande chamativo é sempre o Anonymus Gourmet lançando livro - cujas receitas até minha mãe critica. Ou levam gente que lança best-seller ou livro de auto-ajuda, que não valem a leitura, o calor e as milhares de pessoas te empurrando.
Neste ano, quando estou fora da cidade, os malditos organizadores chamam o EDUARDO GALEANO. É só o cara que escreveu "As Veias Abertas da América Latina", que resume cinco séculos de opressão e exploração conseguindo, na minha opinião, não fazer um panfleto. E ele vai estar lançando um livro. Ou seja, vai ter sessão de autógrafos - isso quer dizer, eu ia poder chegar perto dele, ter um livro assinado por um autor que realmente fez a diferença para mim.
Ódio de verdade.

29.6.08

grenal


Hoje é domingo de Grenal, o que me faz sentir saudades inconsoláveis de casa. Domingo de Grenal no Rio Grande era dos meus dias favoritos. Não somente pela minha paixão pelo futebol e pela chance única de torcer pelo Grêmio e secar o Inter ao mesmo tempo. Esses sempre foram dias de ligar para o meu pai e contar como estava o clima em Porto Alegre, se tinha torcida na rua, se tinha movimento, se tinha muito brigadiano nas esquinas. Era um dia em que eu jamais deixava de entrar no msn, sempre a fim de encontrar um amigo colorado para tirar uma onda - na paz, porque Grenal para mim sempre foi um dia feliz. Não sei como alguém transformar o melhor dia dos gaúchos em violência, tragédia, morte. É um dia para todo mundo ver o jogo junto, torcendo, secando, numa boa e em paz.
Na Casa do Estudante, era impossível dormir. Com aquele amontoado de blocos, a gritaria era infernal. Se quisesse dormir, conseguia só até as quatro. Depois, dá-lhe berro, xingão, palavrão, "colorado fdp", "gremista veado". Só delicadeza. Fora os guris do andar, que colocavam a TV no saguão e berravam as duas horas e mais o tempo complementar. Às vezes eu me irritava, mas no fim eu ria porque era muito engraçada aquela euforia e aquela rivalidade que só entende quem entende o futebol.
A cada gol, eu me comunicava com meu pai. Se fosse gol do Grêmio, era toque na hora ou mesmo uma ligadinha. Se fosse o contrário, a gente esperava o intervalo para xingar a mãe do nosso presidente ou o desgraçado que fez o gol do Inter. E meu pai sempre dizia que dava para virar. Meu pai sempre foi animado, mesmo com dois a zero ele sempre acredita na virada. E grava todos os jogos, o que faz, para mim, com que ele seja o maior personagem dos Grenais.
Faltam agora menos de quatro horas para o Grenal, no Beira-rio. E eu imensamente gostaria de estar em casa, querendo que o Grêmio ganhasse para estar na Lima e Silva, ouvir até o último comentário da Gaúcha e esperar pela segunda-feira, fosse a zoação tricolor ou colorada.
Nostalgiazinha desgraçada.

10.6.08

a bomba que poderia ter sido

Talvez eu esteja acreditando demais na idéia de que nada é por acaso. Mas o fato é que, se eu não estivesse em São Paulo nesse 9 de junho, estaria, bem provável, tomando café na Padaria Roquete, em Porto Alegre, antes de ir para a Chasque. A mesma padaria que quase foi pelos ares porque um maluco deixou uma bomba em cima de uma mesa e acionou a desgraçada. Como se fosse em Bagdá, onde um absurdo desses não consegue mais chocar. E a coisa explodiu ali pelas nove horas da manhã, horário em que, justamente, eu tomava meu cafezinho e comia meu sanduichinho farroupilha.
Sei lá, de repente deu um medo da brevidade da vida. Um medo que me fez saudar minha própria coragem de estar e não surtar nessa selva de pedra. Como se fosse um recado para aproveitar todos os instantes da minha vida.

4.4.08

da série mini temporada no interior

Farroupilha não é uma cidade assim tão brejo para olharem de forma tão horrorosa uma meia-calça azul.
Quase saudades dos emos da Lima e Silva.

11.3.08

passando reto pelo RU

Agora que eu vejo todo mundo em aula na Ufrgs, estou estranhando muito o fato de não ter aulas. Toda vez que eu vejo o RU do Centro aberto, tenho a impressão de que vou entrar ali. Preciso sair logo da Casa do Estudante e parar de conviver com tantos remanescentes. Melhor. Preciso é sair logo de Porto Alegre.

15.2.08

a tal da conferência

Enquanto o Fogaça e a elite engenheiro-arquitetônica de Porto Alegre se esbaldam mostrando para o mundo o melhor da capital na Conferência das Cidades, a Guarda Municipal cumpre o papel de “limpar a área” para os convidados ilustres de vários países não perceberem que aqui tem muito mendigo. Acompanhei hoje pelo menos duas retiradas de moradores de rua no Centro, uma na João Pessoa, próximo da Salgado Filho, e outra embaixo do túnel da Conceição.
Patética essa forma de esconder a “sujeira” por baixo dos panos. Simplesmente jogaram os mendigos de um lado para outro. E se a tal da Conferência quiser saber no que o poder público anda alterando a vida das pessoas, eu digo: vão deixar os mendigos sem colchão pra dormir. Com esse tipo de política, é o máximo que conseguem. Não é questão de apoiar uma cidade cheia de sem teto, mas fazer de conta que eles não existem é auto-vendar os próprios olhos.
Se quiser entender a realidade da população de Porto Alegre, e não apenas ouvir um monte de lendas sobre um Orçamento Participativo que anda mais do que quebrado, os ilustres convidados do evento, cuja inscrição custa uns 300 reais, poderiam dar uma voltinha no centro, ali pela Volunta. Ali, é possível observar bem os camelôs (pelo menos, os que resistem às faxinas da Smic), mais alguns mendigos, prostitutas, desempregados, vendedor de loteria etc. E ver o quanto de balela os “especialistas” estão dizendo. Melhorando maravilhosamente a cidade? Só se for no Moinhos ou no Higienópolis ou em algum condomínio fechado da zona sul. Pro povão de verdade, Porto Alegre nunca foi tão suja, tão atrolhada, desorganizada e repressiva quanto hoje.
E querer comparar essa conferência burguesa e midiática ao Fórum Social Mundial só pode ser coisa de jornalista que só sai de casa de helicóptero, nunca anda pela Farrapos ou cobre tudo pelo telefone, inclusive o Fórum.

18.7.07

desejo de viver

Queria não escrever sobre o acidente de avião que, heroicamente, conseguiu tirar meu sono, mas não há como evitar, pelo menos hoje.
Porto Alegre parece estar de luto, como que tentando sobreviver dentro de um pesadelo. E eu estou triste, pelas pessoas que eu conheço que estão sofrendo e por outras tantas com as quais, por fatalidade, negligência ou destino, nunca poderei cruzar.
As coisas estão tristes. Pessoas se vão todos os dias, muitas em todo o mundo, mas as grandes tragédias têm um poder diferente.
A verdade é que, nesses momentos, se é obrigado a ver o quanto o instante é fugaz. E a vontade que dá é aproveitá-los incessantemente. Beijar e abraçar quem está do lado.
Se algo de bom existe nisso tudo é perceber que o desejo de viver é invencível e inigualável.

20.6.07

inacreditável

É incrível o que acontece nesse momento em Porto Alegre. O futebol é mesmo uma religião. Uma seita misteriosa. Estamos a poucos minutos da batalha derradeira. Descobri, em todos esses dias, o que realmente é a imortalidade. A alma gremista é que é imortal. Grêmio, eu acredito. Grêmio, ainda não existem palavras pra ti.

16.4.07

a novela da academia

Estou prolongando a minha ida até a academia fazer a inscrição. Nem precisava ter feito uma cadeira mal feita de psicologia pra saber que se trata de falta de vontade. Não é que eu não goste de fazer exercícios, ginástica etc - eu gosto. O meu problema é o clima de academia. Tenho vontade de me esconder embaixo da cama só em pensar nas várias patricinhas saradinhas e marombeiros existentes(cujo destino deveria ser um buraco bem fundo). O fato da minha pancinha seria o menos grave. O problema é a convivência com os outros seres humanos (ainda que pareçam outra coisa) e a música ensurdecedora. Meu sonho é uma academia sem música. Silncio absoluto. Maldito demente que inventou essa história de música alta e malditas criaturas que aceitaram. No ônibus, uma vez, num trajeto Poa-Farroupilha conheci um cara que me afirmou a exstência de uma assim, bem silenciosinha. Sim, no Moinhos. Deixa pra lá.
A natação vai me tomar mais tempo e é mais cara. Não ando com tanta grana assim pra gastar e menos ainda com tempo pra esbanjar. Então, decidi que preciso superar esse pavor de academia e tentar. Como estou fazendo com assessoria de imprensa. Nem que seja pra dizer "Deus me livre, nunca mais". Ia fazer isso no sábado; fechava cedo e eu tenho inglês. Tentei hoje. Mas o fato de não poder pegar um livro na Ufrgs por estar em débito na quantia de milionário um real e de a porcaria do livro ter sumido - acrescido ao fato de que amanã vai ter paralisação dos funcionários de lá - tirou minha vontade.
Mas eu nem iria começar quarta mesmo. Tem debate sobre segurança pública na PF Gastal com o Luiz Eduardo Soares, e eu até mataria aula por isso. Vou levar meu Elite da Tropa, quero um autógrafo. Não costumo ser tiete, mas do Luiz Eduardo Soares eu quero um autógrafo. Quem sabe, um dia, não viro aluna dele no Rio? Depois de um dia como esse, preciso sonhar.
O fato é que de semana que vem não passa - digo isso há dois anos. Mas vou tentar cumprir minha meta e passar por cima. Tentar perder o preconceito e deixar de achar que todo freqüentador de academia é um fútil enrustido.
Em outras palavras: vai ser uma evolução do meu espírito. Tem que se agarrar em alguma coisa mesmo.

10.4.07

insegurança em Porto Alegre

Não me sinto segura em Porto Alegre. Grande novidade. Acho que, a essa altura, ninguém se sente. Passou das nove horas, e eu prefiro estar em casinha, segura. Se for pra andar de ônibus, grandes esquemas sobre qual ônibus pegar, onde pegar (paradas vazias nem pensar), onde descer (ruas escuras são um tormento). Estatísticas sobre os campeões de assaltos (ainda é o T1?). O fato é que, ontem, preferi gastar mais de dez reais de táxi do que ter que enfrentar uma pequena parte do campus centro da Ufrgs, quase onze da noite. Prefiro gastar tudo o que eu tenho do que a mera possibilidade de ser assaltada. Sempre acreditei que seria um trauma tão horrível e inesquecível que... melhor nem pensar. E o pior é que, comparando com outros lugares, Porto Alegre é o menos pior. Parece brincadeira, às vezes, acreditar que há algo pior do que poder ser assaltada 24 horas por dia em 99% dos lugares. Sim, em Alvorada (nem preciso chegar no Rio) posso ser atingida por uma bala perdida. Quer dizer, na Bom Jesus acontece isso também. Queria ter alternativas pra isso, fazer algo em vez de reclamar e ficar histérica. Mas não consigo. O que me conforta é saber que, pelo menos, na minha monografia, eu páro e penso de verdade sobre isso. Aí eu sinto, por menos que seja, que não estou de braços cruzados.

29.3.07

Danuza Leão

Sempre achei um saco esse negócio de sessão de autógrafos. Pra mim, sempre serviu pros escritores olharem os outros por sobre suas lentes de intelectualidade e pros "tietes" demonstrarem toda a sua tietagem histérica e esquizofrênica. Fui em algumas até hoje, mas geralmente de pessoas que eu conhecia, então sempre foram sessões de clima amigável.
Segunda-feira, por acaso, li no Correio do Povo que a Danuza Leão estaria na Saraiva do Praia de Belas autografando seu último livro, Quase tudo. O Ungaretti falou do livro em aula, quantas matérias saíram sobre ele, me deu vontade real de ler. Só que minha lista do que ler é sempre gigantesca, o que me faz sempre anotar o nome de muitos livros na esperança de um dia comprar e ler. Desmarquei a depilação (porque deixar de ir em algo interessante por causa disso é imbecil, no meu universo) e resolvi comprar o livro e ir pra sessão.
O clima no lugar, claro, foi de tietagem, e sempre aproveito pra encontrar boa parte da imprensa daqui e descobrir o quanto odeio essa mesma imprensa, cheia dos egos de quem acha o Sol gira em torno de Porto Alegre.
O que valeu foi a Danuza. Com um casaquinho verde, uma calça surrada e um All Star branco, ela passou pelas pessoas como se fosse alguém comum. Inteligente como é, tinha a plena noção de ser a estrela da festa, mas não parecia se importar tanto com isso. Talvez nada. O que chama a atenção mesmo são os olhos – que olhos! Olhos de quem viu muito da história do Brasil, de quem estava ao lado de Samuel Wainer durante a notícia do atentado da rua Toneleros, em Copacabana.
Esperando na fila, chegou minha vez. Sorri pra ela, que deve ter achado – como muita gente mesmo – que sou mais nova que meus 22. Pediu se eu já tinha lido o livro. Disse que não, que esperaria terminar meu Crime e Castigo. Foi a vez dela rir e dizer: "ah, mas esse aqui [Quase Tudo] é muito mais leve". E eu completei com um "sim, e mais curto também".
Com "um beijão da Danuza" escrito no início do meu livro novo, agradeci. Ela também, pela minha presença. Saí da fila e fui pra casa, feliz por ter trocado três ou quatro palavras com a grande Danuza Leão sem ter precisado ensaiar durante cinco horas.