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20.11.17

Tirei as tintas da caixa. Saí da caixa também.




Nesse domingo eu planejava ir a uma palestra sobre assexualidade no Centro Cultural São Paulo, mas a) o metrô não estava funcionando b) o tempo estava chuvoso c) estava com preguiça d) preferi economizar o dinheiro da passagem e ficar em casa mesmo.

Ainda de manhã eu tinha decidido: ia ser dia de estrear minhas têmperas, meu pincel e meus apetrechos improvisados de pintura. TÊMPERA DE CRIANÇA????? Essas aí mesmo!

Eu sempre gostei muito de pintar. Quando era criança, idade em que se ganha altos incentivos para fazer essas coisas, encarava as tintas como um mundo à parte, um mundo adorável. Usava a mesa da cozinha pra fazer meus trabalhos de colégio ou, se o dia estava bonito, tomava um banco velho no jardim pra fazer de "ateliê". Com o tempo descobri que havia umas tintas esquecidas no porão, do tempo em que minha dinda estudava artes na escola, e claro que as peguei pra mim. Eu tinha então muitas cores e ainda fazia outros misturando.

Fui uma criança sortuda que, no ensino médio (sei lá como o chamam hoje), em Farroupilha, teve o privilégio de estudar educação artística. Estudar mesmo. Minha professora ensinava Impressionismo. Pop Art. Natureza Morta. Vem daí meu amor por Renoir, pra ter ideia. Com isso, fui aprendendo alguns conceitos e comecei a entender um pouquinho de arte. Eu cheguei a criar uma pintura impressionista que certamente não agradaria aos mestres,mas me achei supimpa. Infelizmente não guardei qualquer trabalho dessa época.

Só que tinha um problema. Nunca fui talentosa pras artes. Do tipo que alguém elogia. Duas amigas minhas, sim, elas arrasavam. Copiavam qualquer desenho com uma facilidade tremenda. Criavam umas coisas diferentonas. Eu, no máximo, fazia uns garranchos. Com muito esforço fazia algo que ganhasse atenção.

Mas não ter talento nato, seja lá o que isso significa, não quer dizer necessariamente falta de criatividade. Mas quem ganha reconhecimento em um sistema educacional rígido é quem faz tudo perfeitinho, bonitinho, seguindo regras. E eu nunca fui uma criança, por exemplo, que pintava dentro dos limites com lápis de cor. Fui treinada para fazer isso. Treino mesmo, professora me repreendendo, adultos tendo chilique porque eu risquei todo um livro de histórias que ganhei da minha prima. Eu tava me divertindo apenas, mas pros adultos, noooossa, a Pati não é muito normal (eu sempre fui meio a esquisitona do rolê).

Daí eu fui crescendo, assumindo responsabilidades (tipo vestibular!) e esqueci das as  temperas. Quer dizer, esquecer nunca esqueci, mas a época disso tinha passado, segundo eu mesma ou as regras sociais ou sei lá quem.

O tempo passou e eu sempre rejeitando a ideia de ser criativa. Criatividade é pra publicitário, artista, povo do teatro, só sou jornalista, gente, escrevo umas histórias e uns textos pra internet. Era assim que eu pensava, até porque detestava (e detesto) escrever ficção.

Em 2012 tive a chance de fazer um curso gratuito no Mube, História da Arte Universal. Amei as aulas, amei a professora, passei a sonhar com visitas a museus europeus, comprei um livro pra estudar mas sempre com a ideia “Eu queria ser criativa, mas não sou, que pena”.

Até chegar a Dublin em 2014. Lá, em uma manhã fria de inverno, resolvi fazer um teste de personalidade que me revelou IFSP, conhecido como “artista-compositor”. E aí descrevia esse tipo de pessoa e CARAAAALHO TEM TUDO A VER COMIGO. Entendi então que eu era criativa, sim. Que eu passo o dia tendo ideia mirabolante e fazendo planos pra lidar com minhas ideias e pesquisando e querendo fazer tudo diferente e enjoada do que já conhecia e que criatividade é tudo isso e... Tão eu mesma.

Desde então me perguntava “Por que eu deixei de pintar?” E eu não encontrei resposta.

Todo esta história me traz até 2017, mais precisamente seu início, quando eu estava tão feliz em um dia que passei em uma Kalunga pra comprar alguma coisa e saí de lá com têmperas. É agora, pensei. Enrolada com mil questões durante o ano, deixei as têmperas guardadas em uma caixa com meus livros. 

Neste fim de semana elas saíram da caixa, ou talvez eu tenha saído da caixa junto com elas. Almocei, dormi, continuei um texto pro meu outro blog e tcharaaaamm liberei espaço pras minhas tintas. Meses de espera praquelas têmperas novinhas, anos de espera pra mim, que senti tanta saudade daquele movimento de combinar cores no papel, esperar secar, limpar pincel, começar tudo outra vez...

Fiz uma casinha no bosque que, pra ser honesta, ficou horrenda. Isso do ponto de vista estético, claro. Algo meio Van Gogh, talvez aquela árvore, não sei, mas poxa, imediatamente já passei a amar esse desenho. 



Nessa segunda de feriado me sinto imensamente bem. Fico me perguntando se é só reflexo da meditação recém- iniciada ou se foram as tintas que deram uma colorida a mais na vida. Quem sabe não estudo pintura a sério no futuro? Sei apenas que não vejo a hora de ter um tempinho livre pra pintar uma coisinha nova e recuperar o tempo perdido.

Queria dizer àquela Pati pequenininha que rabiscava livros que está tudo bem, que artistas e/ou loucos sempre foram meio incompreendidos, então não tem nada pra se preocupar.



11.4.09

um pouco d'arte

Não tenho postado, nesses quase três anos de blog, nada sobre arte. Muito sobre cinema, aqui ou acolá sobre teatro e fotografia mas nada em um sentido mais amplo de artes plásticas mesmo.
Bom, para corrigir isso lembrei do Museu Afro Brasil, no meio do parque do Ibirapuera, em São Paulo. Pensava que fosse um museu interessante, mas não imaginei que eu fosse me impressionar tanto.
Para dar uma ideia, parte do acervo do museu durante a minha visita no domingo passado era formado por uma exposição sobre o Saci Pererê (simpático, mas é o símbolo do Inter, não dá para esquecer), outra exposição gigante sobre Guiné-Bissau (com direito a máscaras, vestimentas e muitas cores) e ainda outra com só esculturas.
O museu, basicamente, é composto por memórias dos negros do Brasil e dos negros da África. Em certos momentos, a gente não sabe se está vendo imagens de brasileiros ou de angolanos, porque as culturas parecem absurdamente semelhantes.
Tinha uma exposição fantástica também só com fotos do Walter Firmo que, segundo os curadores, é um dos maiores fotojornalistas do Brasil (se minhas aulas de fotografia na faculdade tivessem sido boas, eu saberia disso por mim mesma). Em tempos onde a fotografia virou foto de assessoria de imprensa, foi bem reconfortante ver essas imagens e perceber que, querendo, existe muita história esperando por uma lente. Várias fotos, de fato, me deram inveja e vontade de comprar uma boa máquina.
Se eu pudesse mudar algo no museu, colocaria algo contando a história dos negros no Sul do Brasil, porque dá impressão de que só existem negros na Bahia, Rio de Janeiro, Maranhão etc. Pode ser que tenha passado despercebido, mas bati pernas no prédio inteiro e não vi nada.
Enfim, fora isso, um excelente lugar para passear, aos que moram aqui ou aos que dão as caras de vez em quando. E não custa nada, o que torna tudo ainda melhor.

(Cartola, por Walter Firmo)