Era um domingo e passei o dia todo em casa com minha
família, principalmente meu pai, que não se continha de nervosismo. Mas ele
havia passado a semana inteira dizendo “vai dar”. Não tinha como não acreditar
nele, mas mesmo assim a tensão era presente. O Grêmio precisava fazer 2 X 0 no
Olímpico contra a Portuguesa para compensar os 2 X 0 em São Paulo e, com melhor
classificação na primeira fase, ficava com o título. O Grêmio era um BAITA
time, mas a Portuguesa tinha seus méritos e seus bons jogadores.
Decidimos que valia a pena gravar o jogo em fita K7, coisa
que meu pai faz até hoje. Eu não queria ver o jogo na televisão (e continuo não
gostando, tenho impressão que dá azar), então fiquei cuidando do rádio fora de
casa, na nossa areazinha de serviço. E ele ficou lá dentro. Não tenho ideia de
onde estavam os outros, só sabia de mim, dele e do jogo.
Quase morri de angústia. O gol do Paulo Nunes no início foi
uma glória, mas ainda faltava UM. E um gol não é pouca coisa, ainda mais quando
ele é NECESSÁRIO. O tempo passava e eu cada vez mais próxima do infarto, em
plenos 12 anos.
Enfim veio o gol, com o contestado Aílton, quase no fim do
jogo, aos 39 do segundo tempo. Só lembro do gol, de mais nada. Era tudo muito
nervoso, muito confuso. E ainda faltavam
seis minutos no tempo regulamentar, fora os acréscimos. Minutos que pareciam
horas, dias.
Depois de quase virar pelo avesso de tanta agonia, terminou.
Grêmio bicampeão brasileiro. O primeiro título nacional do Brasileirão que eu
podia comemorar.
Meu pai ensandecido, óbvio. Na hora ele catou a bandeira
enorme do Grêmio e, como só tínhamos aquela, me deu um par de meias antigo e
tricolor para eu agitar.E lá fomos nós para o centro de Farroupilha, point dos
gremistas – na época era só do lado azul do estado mesmo (tempos lindos).
No caminho para o centro, uma das cenas mais nítidas da
minha infância/pré-adolêscencia: um grupo de torcedores de algum dos bairros
havia lotado um CAMINHÃO e saído enlouquecido pelas ruas. Nos viram com a
bandeira, a pé, e foi aquele buzinaço, aquela euforia, aquele congraçamento em
pleno fim de tarde.
Ficamos um tempo no centro, no meio da muvuca, e voltamos
para casa depois de anoitecer. A última lembrança é a de eu recolher a bandeira
que havíamos deixado em uma árvore, um chorão que ficava em frente à nossa
casa. Meu dindo, na janela – colorado – perguntou, brincando, se eu ainda
estava às voltas com a bandeira. E eu respondi “não é sempre, não sei quando vai
acontecer de novo”.
Parecia uma profecia porque foi o último Brasileirão vencido
pelo Grêmio. Tristezas à parte pelos anos sem título, difíceis para quem já
nasceu com um título de Mundial, só tenho lembranças maravilhosas daquela
jornada épica.
Dezesseis anos e um dia depois, só posso agradecer ao Grêmio
e, principalmente, ao meu pai por me darem momentos tão únicos e mágicos na
vida.