Tenho lido bem menos coisas do que eu deveria, a tudo eu atribuo a minha ainda desorganização de vida aqui em São Paulo. Mas todo o dia eu dou uma olhada na Zero Hora, seja para ver se o Grêmio joga, ver se está tudo inteiro no Rio Grande ou – óbvio – achar alguma coisa para criticar no jornal, dentro da minha chatice habitual e – pretensamente – crítico democrática. Não que eu não faça o mesmo com outros veículos, mas neste a “diversão” é garantida.
Pois bem, encontrei!!! Depois de uma manchete que dizia “Árabes querem dominar o mundo”, que se referia a uma transação futebolística, induzindo os leitores a acreditar que se tratava de um novo ataque terrorista, o site disponibiliza esta matéria:
Pais encontram filho morto em frente de casa na Capital
Jovem de 20 anos voltava da escola e teve mochila, celular, tênis e jaqueta roubados
Atualizada às 13h37min
Maílson Oliveira da Rosa, 20 anos, foi morto ontem à noite em frente a sua casa, na Vila Safira, zona norte de Porto Alegre, quando voltava da aula. Ele teria sido vítimas de assaltantes, que levaram mochila, tênis, um telefone celular e uma jaqueta que trajava. O delegado Leonel Baldasso, da 18ª DP, ainda não tem suspeitos, mas diz que roubos são comuns na região.
Por volta das 23h, os pais da vítima ouviram um barulho, mas não deram muita importância. Cerca de duas horas depois, estranharam a demora do filho, que já deveria ter retornado da Escola Estadual Itália, onde cursava o Ensino Médio. Encontraram-no baleado em frente à casa. O pai da vítima, Milton da Rosa, disse não saber se o filho reagiu.
Conforme a família, Maílson tinha deixado o quartel havia poucos meses, onde serviu na Cavalaria. Costumava prestar serviços como auxiliar em construções. Havia comprado o celular recentemente, com o próprio dinheiro. SEGUNDO A POLÍCIA, O JOVEM NÃO TINHA ANTECEDENTES CRIMINAIS. Ele será sepultado em Três Cachoeiras, no Litoral Norte, cidade de origem dos pais.
O chefe de investigações da 18ª DP, Cláudio Pinto, divulgou um número de telefone para denúncias anônimas: 3387-6683.
No site não estava este grifo em caixa alta, óbvio, fui eu quem colocou, já que marca bem a parte que me chamou a atenção. O jovem parece ter sido assaltado, como tanta gente é. Até aí, tudo bem. Mas qual a relação entre o crime e os antecedentes criminais da vítima? Não é comum ter este tipo de informação nas matérias sobre as pessoas de classe média que sofrem violência semelhante.
Isso vale, como diziam tantos professores da Fabico, uma monografia. Essa eu gostaria de fazer. Eu pegaria vários casos e mostraria, bem provável, que estas relações entre morte e passado da vítima costumam ser feitas com gente pobre, das favelas, de “lugar perigoso”, de “área de risco”.
Assalto à classe média é sempre resultado da falta de segurança. Mas caso com pobre aparece sempre, mesmo que sutilmente, como vingança e acerto de contas, deixando a impressão de que “morre porque conhece bandido”.
Eu já quis muito trabalhar em editoria de polícia. Mas se o critério atual for esse, investigar ficha de polícia de morador de favela e ficar amiguinha de delegado, estou fora.
Um comentário:
Bela análise. Clap, clap, clap. Minhas palmas para ti. Bjs
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