27.11.08

os bonzinhos aparecem

Acompanhando os preparativos do Tribunal Popular, que vai acontecer em dezembro aqui em São Paulo, fui ontem ao Palácio dos Bandeirantes (o Piratini dos paulistas). Depois de quase suplicar para a assessoria de imprensa deixar os jornalistas entrarem, autorizaram que apenas eu, que tinha máquina fotográfica - emprestada do pessoal do Tribunal - subisse para registrar o momento em que os organizadores entregavam uma convocação ao governador José Serra.

Não foi nem a burocracia do processo que me surpreendeu, e sim o comentário de um dos milhares de assessores que trabalham na "Casa do Povo" aqui de São Paulo. Depois de a assessora de imprensa comentar em uma salinha que o governo paulista iria ajudar no apoio às vítimas de Santa Catarina - o que é óbvio, não havia necessidade dela anunciar tão espetacularmente -, um de seus interlocutores pediu quando finalmente a Defesa Civil iria anunciar um "disque-ajuda" ou algo parecido com um "posto de coleta", pois sua mulher estava louca para ajudar os desabrigados catarinenses. A mulher, segundo ele, tinha várias coisas em casa e achava que poderiam ser úteis.

A tragédia de Santa Catarina é terrível, ainda mais assustadora para quem tem parentes na região, como eu. Toda a ajuda do mundo é necessária. Mas por que essa mulher "tão bondosa" resolveu esperar uma tragédia tão retumbante para ajudar alguém? Ficou na minha garganta a frase "em São Paulo sempre existem pessoas que precisam, ela poderia doar para quem está aqui também".

Preferi ficar quieta, não apenas porque estava no Palácio do Serra e poderia ser presa - não dá para duvidar de mais nada, afinal não sei que poderes tem o homem de mulher tão bondosa - mas também porque não vale a pena se desgastar com gente que só descobre que os outros sofrem quando vêem na televisão.

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