Assisti semana passada a um documentário sobre os sem terrinhas feito pelo coletivo de Audiovisual do MST. É claro que um vídeo feito por uma entidade sempre é, digamos assim, institucional. Não que isso por si só seja ruim, até porque é uma forma de o movimento mostrar seus objetivos e sua realidade a partir do seu próprio de vista, e não por meio de outras pessoas que não estão envolvidos nesse dia-a-dia.
Enfim, não é meu objetivo pentelhá-los com visões e discussões políticas, exatamente por isso confesso ter imaginado o quanto seria interessante um documentário jornalístico sobre essas crianças. Não tenho informação de que algo tenha sido realizado nesse sentido até hoje, pelo menos nada que tenha tido repercussão considerável.
Sem querer fiquei pensando em personagens, entrevistas, tomadas, olhares que poderiam ser explorados, mesmo tendo consciência do meu talento limitadíssimo para tudo que envolve televisão, cinema e coisas afins.
Todo este monte de divagações me fez voltar uns três anos, quando fizemos a 3X4 para a cadeira de Redação IV do Ungaretti. Além de uma matéria mais geral sobre acampamentos e assentamentos, que eu, felizmente, dividi com a Jana Kalsing, teve ainda a reportagem sobre as crianças do MST.
Eu tinha, a essa altura, uma experiência até razoável de texto para quem ainda estava na faculdade, o que significa nada de grandioso ou ousado mas também nada impublicável. O que apertou foi o fato de não ter experiência nem habilidade (até hoje) para lidar com crianças, o que compromete razoavelmente o trabalho.
Bom, fui para o seja-lá-o-que-Deus-quiser, e o resultado foi a matéria mais legal que já escrevi, pelo menos na minha humilde opinião. Eu gosto de ler esse texto até hoje, gosto da maneira como coloquei as palavras e, principalmente, gosto de ter feito exatamente o que eu queria - o que cumpriu em grande parte o objetivo da cadeira, é uma das poucas da Fabico que possibilitava às pessoas serem um pouco felizes.
Ficou bem longe de ser uma obra-prima, mas acho que essa matéria, junto com a que fiz sobre os moradores de rua do centro de Porto Alegre, resumem muito do que eu era durante a universidade.
Não quero dizer com isso que hoje sou uma velha desanimada, desmotivada e que parou de acreditar na vida e no jornalismo. Mas eu era, de certa forma, tão inocente nessa época que tudo era curiosidade e justamente por isso tudo era descoberta, surpresa, encantou ou mesmo decepção.
Três anos depois disso, me considero muito mais madura, experiente e até mesmo esperta em todos esses assuntos e ainda sobre outros.
Toda essa sabedoria, porém, não me faz sentir mais jornalista. Faz me sentir mais adulta, talvez mais politizada, mas de forma alguma mais repórter. Acho que o que me incomodou em tudo isso foi justamente o fato de me considerar menos sensivel hoje e até menos criativa do que naquela época.
Bom, talvez esse seja um processo natural e inevitável o "endurecimento", mas quando a gente se dá conta se sente tão mal... às vezes dá vontade de jogar todo o "profissionalismo" fora para poder encarar o mundo de uma maneira bem mais sincera.
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