Prometi que voltaria pra contar algumas histórias da Colômbia e estou cumprindo. Na verdade, acho que pode ser até bom pra “desangustiar” um pouco. A experiência foi mais marcante do que eu poderia supor, já que estive não apenas perto mas exatamente nas tão temidas áreas de conflito.
O que mais me impressionou foi o medo das pessoas. Senti que existe muito mais do que um medo de contar as histórias. É como se fosse um medo de lembrar, de pensar e de viver também.
O dia mais impressionante de todos foi o dia 18 de agosto, quando estávamos em San Juan de Pasto, no departamento de Nariño, no sul do país – divisa com o Equador. Primeiro, uma moça, acompanhada de outras pessoas, veio me contar sobre o projeto de uma cooperativa, que prevê cultivos alternativos onde hoje há plantação de coca. Ela queria pedir a minha ajuda.
Sabendo que eu era jornalista, talvez quisessem minha ajuda pra divulgar, mas nem chegaram a pedir nada em especial. Angustiada, a moça só dizia que aquilo era importante e que precisavam de ajuda. Sem muito com o que contribuir, entreguei uma edição do Brasil de Fato a eles e um papel com meu endereço de e-mail.
Quando eu entreguei isso, fiquei até assustada ao perceber o tamanho da gratidão da moça. Ela chegou a ficar sem palavras, não conseguia me agradecer por algo que, tão simples pra mim, é tão significativo pra eles.
Parecia uma esperança que uma jornalista brasileira, integrando uma missão humanitária, mesmo que informal, fosse até onde eles estavam e se dispusesse, de alguma forma, a ajudar.
Na mesma hora, ela tirou o lenço que usava e me entregou, disse que era artesanal, feito dentro de um dos projetos dos camponeses. Mesmo dizendo que não poderia ficar com o presente, ela insistiu e eu vi que seria a maior desfeita do mundo se não aceitasse.
Foi aí que eu tive noção, pela primeira vez, do abandono do povo colombiano. As pessoas suplicam a tua ajuda. Não é uma questão de “quanto mais ajuda, melhor”. É algo muito mais urgente, complexo e triste. Qualquer ajuda é simplesmente fundamental.
Ontem eu usei o lenço pela primeira vez. É verde escuro, com detalhes em verde claro e dourado. Usava e pensava no esforço daquelas comunidades em resistir à violência e à morte.
Depois de certas experiências, não tem como não ver a vida de muitas outras formas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário