5.12.13

as ruas

Um dos meus passeios prediletos aqui em São Paulo é ir até a Fnac fuçar nos balaios.

Tenho uma certa tara por balaios desde meus tempos de visitante da Feira do Livro em Porto Alegre. Hoje sou mais seletiva - não compro qualquer coisa só porque custa R$ 2, como fazia no passado  -, mas ainda assim sempre consigo boas aquisições - desde clássicos até livros menos conhecidos e difíceis de encontrar. Aliás, acho que uns 90% do que comprei na Fnac até hoje foi desse jeito, catando "preciosidades" entre livros de informática obsoletos e best-sellers de gosto ainda mais duvidoso do que os consagrados.

Há uns dois meses tirei a sorte grande. Comprei dois livrinhos do George Simenon por R$ 5 - que o caixa me disse estarem custando R$ 15 um dia antes - e "Alma Encantadora das Ruas", do João do Rio, também pelos módicos R$ 5.


Eu li uma crônica do João do Rio durante a faculdade e fiquei encantada. Versava exatamente sobre a alma e os diferentes tipos de rua - é a primeira crônica que compõe esse livrinho. Fiquei em dúvida na hora de comprar - tenho tentado reduzir despesas e coisas físicas - mas livros bons por esse preço, convenhamos. Posso transferir a pão-durice e o desapego para outros itens.

A rua é o cerne do livro e das ideias do João do Rio, mas ele vai além: descreve os tipos da época - quase todos marginais -, as profissões, os costumes, as artes e até mesmo as prisões. O único aspecto não tão bom do livro é que, como a escrita (apesar de brilhante) tem aquele estilo rebuscado e um tanto "rocambolado" das antigas, torna-se meio cansativo ler o livro curtinho em uma só pegada - doses homeopáticas funcionam melhor. Pelo menos na minha opinião, é claro, um tanto maníaca por objetividade.

Como a internet é uma coisa linda dá para ler online nesse link.

João do Rio era um dos pseudônimos usados pelo Paulo Barreto, figura importante do Rio de Janeiro no começo do século passado. Ao ler a curta biografia no livro descobri que pelo menos 100 mil pessoas compareceram ao seu enterro. É gente pra caramba. Mas ao conhecer um pouco mais da sua obra é possível ver porque era tão famoso. Era um jornalista - e um repórter - daqueles. Dos melhores. De se invejar da primeira até a última letra de um texto. Sem falar que João do Rio é um dos nomes mais lindos que um escritor pode ter.


Detalhe curioso: no livro ele comenta de algumas de suas influências, dentre elas Balzac. Mas eu sabia disso antes mesmo de ler as crônicas. Em "História dos Treze", que li há alguns anos, já aqui em São Paulo, Balzac divaga lindamente, em um dos textos, sobre as ruas de Paris.  Na hora lembrei do texto do João do Rio e descobri de onde vinha sua inspiração, já que as ideias são muito semelhantes. "A Alma Encantadora das Ruas" só veio confirmar.

ps: revirando o blog, dias depois de escrever o post, dei de cara com outro que eu havia escrito justamente sobre esse livro do Balzac, aqui.

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