Imagem: Pinterest
"É tolice não ter esperança, pensou. Além de que suponho que é pecado. Não penses no pecado. Já sem ele há problemas de sobra. E do pecado não tenho entendimento".
"Não tenho dele entendimento, e até me parece que não acredito nele. Talvez fosse pecado matar o peixe. Julgo que terá sido, embora o tenha morto para viver e dar de comer a muita gente. Mas então tudo é pecado. Não penses no pecado. É tarde demais para isso, e há gente paga para pensar nele. Eles que pensem. Tu nasceste para pescador, como os peixes para ser pescados. S. Pedro era pescador, como o pai do grande DiMaggio".
Gostava, porém, de pensar em todas as coisas em que se implicava e, uma vez que não havia que ler e não tinha rádio, pensava muito, e continuou a pensar no pecado. "Não mataste o peixe só para viver e vendê-lo para ser comido. Mataste-o por amor-próprio e porque és um pescador. Amáva-lo quando estava vivo, e ama-lo depois de morto. Se o amas, não é pecado matá-lo. Ou será mais?"
- Tu pensas demais, velhote -- disse em voz alta.
"Mas gozaste com a morte do *dentuso*, pensou. Vive de peixe como tu. Não é dos que andam aos restos, nem um apetite ambulante como alguns tubarões são. É belo e nobre e não conhece o medo".
- Matei-o em legítima defesa -- exclamou. -- E matei-o muito bem.
"Além de que, pensou, tudo mata, de uma maneira ou de outra. Pescar mata-me, exactamente como me mantém vivo. O rapaz mantém-me vivo. Não devo iludir-me demais".
***
Uma das oportunidades que as ~férias~ prolongadas me dão é a leitura. Desde os últimos meses tenho lido mais livros do que em anos inteiros. Consegui, assim, desentocar muita coisa da estante, como "O Velho e o Mar", do Hemingway. Havia lido durante a faculdade, emprestado de uma biblioteca, mas uma promoção querida na Fnac há algum tempo me deu a chance de ter minha própria edição em casa. Amo bibliotecas e a ideia de frequentá-las, mas ter uma porção de livros do Hemingway em casa dá uma satisfação meio inexplicável. Com esse já são seis :)
Li todinho no sábado e pude não só matar as saudades do Hemingway como comprovar, pela milhonésina vez, que a leitura é uma atividade imensamente prazerosa. Acho que é daquelas coisas que se gosta tanto que se reserva para os momentos mais especiais.
Ainda não tenho meu kindle, mas quem tiver coisa parecida (ou mesmo gosta de ler no computador) pode acessar uma versão digital aqui.
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