11.2.16

como sobreviver à austeridade

Desde que voltei ao Brasil vivo em um regime de austeridade que faria inveja a qualquer governo do mundo. Em março completarei um ano por aqui e, até agora, equilibrar as finanças tem sido apenas um dos desafios que eu tenho (e não são poucos).

Perto de algumas crises existenciais que me assolam, a questão do dinheiro (falta dele, pra ser precisa) tem sido até razoável de lidar. O chato é ter que pedir dinheiro emprestado (depois dos 30 anos isso se torna meio constrangedor), mas ultimamente me agarro na fé e no lugar-comum de que tudo vai dar certo no final.

Fato é que nem tudo é desgraça e se tem algo bom na dureza é que a gente começa a dar valor pro que é barato ou de graça (esse último melhor ainda!). Aí vai uma listinha dessas coisas que preenchem o tempo, alimentam a alma e contribuem para tornar a pobreza menos penosa.

1.  Caminhar e fazer exercícios. Custa zero cents – basta calçar um tênis, uma roupa velha qualquer (minha blusa tem umas manchas e eu tô nem aí) e sair pela vizinhança. Atualmente moro em um condomínio fechado, então não há desculpas para não dar uma caminhadinha no final da tarde. 
2.    Estudar. Necessidade plena em 2016, especialmente para quem se dispôs a passar em um exame de proficiência de inglês, a atingir o nível avançado do espanhol e a encarar novamente os livros de árabe. Material nós temos (fora a internet), então é botar a bunda na cadeira e exercitar o cérebro.
3.    Ter uma desculpa pra não sair de casa. Confesso que ando com preguiça de socializar (interagi demais para uma pessoa introvertida em 2015) e poder ficar quieta no meu canto me dá a paz de espírito que eu preciso. É ótimo poder concentrar nossa atenção na gente mesmo, algo que se torna impossível quando estamos cercados de gente.
4.   Ver filmes e documentários no Youtube – além de outros tantos sites que permitem acesso totalmente free. Para melhorar, é possível ver filmes em outras línguas, aliando lindamente estudo e diversão.  
5.   Escrever. Em português, em inglês, em espanhol. Escrever é de graça e faz tão bem. Ando preguiçosa para a escrita de maneira geral, mas quando resolvo brincar de agrupar palavras me sinto bem. É quase mágico.
6.    Revirar a internet em busca de receitas fáceis e que levem poucos ingredientes – aliás, revirar a internet em busca de qualquer coisa. Que coisa mais linda essa tal rede mundial de computadores. Além de livros de receitas, há cadernos de arte, fotografia, ficção, não ficção, tem de tudo. Eu mesma preparei um xarope para curar minha última crise de tosse – algo que não faria se tivesse dinheiro sobrando, obviamente.
7.    Passear por galerias de arte, parques e ruas até então desconhecidas. Ou então pesquisar cinemas e peças de teatro de graça (e tem). Descobrir a própria cidade, ser turista no lugar onde vivemos. Em São Paulo isso é fácil e prazeroso.
8.   Focar no que é essencial. Só quando a gente fica com o dinheiro contado (e olha que agora é contado mesmo) percebe que não precisa de todos os luxos que tentam nos vender por aí. Pra que um par de sapatos novos se a gente nem tem espaço pra guardar os velhos? E pra que refeições em restaurantes caros pra c*** se a gente pode cozinhar algo mais saudável (e até melhor) em casa? Pagar pra entrar em festa, então, só se eu fosse louca.
9.  Ficar em casa e conversar via Skype com os amigos. Sim, é maravilhoso encontrá-los pessoalmente, mas não dá pra fazer isso quando se tem pessoas queridas espalhadas ao redor da Terra.
10.   Estabelecer planos para o futuro e perceber que, não, a gente não vai sucumbir à falta de dinheiro. Desde que tenhamos um teto, comida e dinheiro para o transporte em uma cidade gigante (enquanto a Tarifa Zero não chega), o resto é contornável.

Comecei 2016 com a certeza de que preciso de mais tempo só, e o período de penúria financeira contribui pra que isso se concretize. Claro que eu gostaria de ter dinheiro para alguns luxos – comprar um kindle, visitar meus pais com mais frequência, fazer uma poupancinha para viajar, comprar livros... No entanto, encaro as dificuldades como um aprendizado (mais um) e penso que amanhã tudo vai ser melhor. Por ora, me penduro na esperança pra viver um dia de cada vez. Se não dá pra comprar livros, me contento em passear pelas livrarias Cultura e Fnac pra cheirar os volumes e ver as capinhas novas. Quem sabe fazendo uma lista do que comprar quando a tal crise acabar.

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