Não queria dar pitaco sobre isso, mas foi mais forte que eu... O fato é que essa decisão do STF sobre a não mais obrigatoriedade de diploma para jornalistas gerou todo tipo de discussão sobre o assunto. Começou por aqueles que defendem romanticamente o canudo, afirmando que ele é o caminho para uma sociedade igualitária até aqueles que já tocaram um grande “foda-se” no jornalismo e, assim, se exploda o diploma junto.
Particularmente, não tenho uma opinião sobre esse assunto específico, como me perguntaram alguns amigos e colegas. E a melhor razão disso é o fato de eu considerar um tanto inútil essa discussão e a própria decisão acerca da obrigatoriedade.
Para os profissionais, jornalistas formados e diplomados – aí me incluo – não consigo vislumbrar quais serão as conseqüências da decisão do Supremo, se aumentarão vagas, se diminuirão vagas, quem vai ganhar com isso ou perder. E ouso dizer que ninguém sabe. Nem Fenaj, nem sindicatos, nem ANJ nem qualquer dos histéricos que tem se manifestado até agora.
Os argumentos das pessoas que são favoráveis à obrigatoriedade se baseiam principalmente à questão da qualidade do jornalismo e de uma possível queda nessa qualidade. Segundo essas premissas, para ser bom o jornalismo precisa ser exercido por pessoas com boa formação, o que seria possível somente na universidade.
Agora, eu me pergunto: a qualidade do jornalismo, de modo geral, pode cair ainda mais¿ Sinceramente, duvido muito. Eu acho que as coisas chegaram a um tal ponto de mediocridade, ruindade e mesmo de maldade na imprensa que parece difícil ficar pior - no máximo, se manter como está.
Destaque esses tempos de todos os portais brasileiros: Obama mata mosca durante entrevista na TV. Eu não acreditei. Tipo, não é verdade, não pode ser. E o texto ainda citava a declaração da criatura, “matei um inimigo voador”. Se algo for pior que isso, meus parabéns, quero ver de perto.
E quem está nas redações? São os jornalistas formados, pelas trocentas faculdades de jornalismo que existem e que não param de se proliferar. E não são apenas essas faculdades menores que são praticamente iguais a cursos técnicos. As próprias públicas estão focadas, hoje, na tecnologia, “de olho” no digital.
Por isso eu não consigo entender que tipo de “formação” as pessoas estão defendendo. Argumentar que há necessidade do profissional com sociologia, antropologia, direito, história e política é não se dar conta que há tempos as faculdades priorizam o técnico, o tecnológico e o mercado. A pessoa que quiser outro tipo de formação, de nível mais elevado, tem que se rasgar para conseguir boas cadeiras e procurar bons professores, caso contrário...
A última reforma do currículo da Ufrgs, por exemplo, privilegia exatamente o maldito apertar botões, principalmente no nosso próprio comportamento.
A faculdade não está formando jornalistas. Repórteres, menos ainda. E não sou eu quem diz, são as velhas gerações: o nível dos jornalistas está cada vez pior.
Em grande parte porque as pessoas que entram nesse curso, hoje, não sabem minimamente o que querem ou, se sabem, se vêem como o Pedro Bial ou a Patrícia Poeta do futuro. Uma parte muito pequena quer ser jornalista de verdade.
E isso deixa de caminho, para quem não quer viver longe da coisa, resistir e tentar encontrar um cantinho que lhes satisfaça a ânsia de ser jornalista. O resto das pessoas (que não são do ramo, como diz um amigo) vai tentar sobreviver e passar o resto da vida se arrependendo de não ter feito outra coisa.
Por tudo isso, por toda a frustração dos meus amigos que sentem, como eu, que a faculdade foi tão aquém daquilo que poderia e que deveria ser, eu considero que a obrigatoriedade do diploma não tem a mínima importância.
Se entrar gente nas redações que não sabe escrever porque não tem faculdade, eles não serão piores daqueles que saem da universidade e também não conseguem fazer isso. Se continuarem as pessoas que estão agora, com o canudo reluzindo na estante, elas continuarão noticiando as moscas do Obama.
Talvez seja uma forma meio simplista essa de encarar as coisas, mas eu acho que mais simples do que isso é reduzir o jornalista a um diplomado. E isso me incomoda muitíssimo mais.
2 comentários:
Eu até acho que isso poderá ser uma oportunidade única para um renascimento das escolas de jornalismo. Se ela será aproveitada, não sei. Mas já está havendo um movimento no Congresso para a aprovação de uma emenda constitucional que torne o diploma obrigatório de novo. O negócio vai para o campo político agora. abraços Pati.
Oi, Pati!
Não tem como não se posicionar a respeito desse assunto, não é mesmo?
O jornalismo influi sim, e muito, diretamente na vida da população, e não é necessário ser nenhum médico para ter esse poder. E acredito que essa influência não pode ficar na mão de pessoas que não possuem capacidade técnica ou o aval de um diploma para utilizar isso a favor da própria boa comunicação! Como tu mesma mencionaste, muitas vezes, nem quem sai da faculdade sabe escrever direito, que dirá quem nem conquistou o diploma! O que não vai sair espalhando por aí, uma vez que se preocupariam unicamente em adequar-se à proposta dos veículos em que trabalham?...
Achei de última, e torço para que o meu diploma daqui há pouco também não vá para o limbo!
Beijão
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